18 junho 2009

Pequena Reflexão sobre Analfabetismo Político

Não, o que pretendo enfocar nesse texto não é a questão do analfabetismo real de pessoas que não sabem ler e escrever, ou analfabetismo funcional, semi-analfabetismo, ou ainda crianças que chegam ao fim do ensino fundamental praticamente semi-analfabetas. Tão pouco é sobre as pessoas que sabem ler mas não o fazem. O analfabeto político muitas vezes é sim essas pessoas. Porém há muitos outros até com doutorados e bons empregos.
A política a que me refiro não é, necessariamente, a política partidária, esquerda e direita, tão confusas atualmente, uns dizem que esse embate ideológico perdeu o sentido, porém essa parece ser mais uma forma de analfabetismo político. Ou ao velho clichê "vote consciente", não acredito que política se resuma a ser eleitor. Refiro-me a política num sentido mais amplo, presente em todos os lugares, política no sentido de vida em comunidade.
Nada mais equivocado do que se dizer apolítico, como se pudesse ser alheio aos fatos que o cercam. Se posicionar "apoliticamente" não é nada mais do que concordar com as coisas como são. Igualmente se imaginar neutro em relação aos acontecimentos, neutralidade é uma idealização dificilmente aplicável à realidade. Não somos neutros em nossas ações, conscientes disso ou não, mesmo escolher não agir já um posicionamento.
Em nossas ações cotidianas somos políticos, nos posicionamos politicamente. Se se é um professor, ensina por quê? Com vista a que? Para beneficiar quem? Quais ideologias estão por trás do ensino? Conhecimento não é neutro. Da mesma forma um cientista, quais são as implicações de suas pesquisas? Interessa a quem e por quê? Ou um advogado, advoga a favor de quem? Interpreta a lei de acordo com quais interesses? Artistas, arte tem muito de subjetividade, porém também emite uma opinião, pinta uma bela paisagem ou fotografa as ruas sujas, mal cuidadas e com mendigos?
Analfabetismo político é pensar poder ignorar tudo isso, não importa o grau de escolaridade. É não reconhecer a complexa rede social na qual nós seres humanos estamos inseridos, ninguém está isolado, nossa ação ou não ação é válida, ninguém pode se dar ao luxo de ser apolítico. No entanto é bem mais fácil se esconder atrás dessa idéia, porque emitir uma opinião é se comprometer, e mais ainda, agir politicamente exige a responsabilidade por essa ação.

__ Reflexões (que servem muitas vezes para mim e para muita gente, em nossa apatia política) após ler um artigo de Paulo Freire "O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO POLÍTICA", disponível em http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/obras/artigos/6.html

6 comentários:

  1. Gostei do post, até pq esse dizer se apolitico vem crescendo dentro das faculdades e da sociedade em geral, acredito que nesse processo de tornar todas as classes em classes médias, uma espécie de Homerização da sociedade.
    Os ditos apoliticos que defendem tanto sua individualidade em detrimento de decisões coletivas deveriam estar cientes que o poder de escolha dita a individualidade do ser, pois se outorgamos a outra pessoa nossa direito de escolha ficamos então isentos desse direito.
    e a liberdade, a individualidade só são alcançadas quando nos tornamos participantes do processo, se não seremos sempre meros espectadores guiados como carneiros

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  2. Acredito que esse trecho do livro "origens do discurso democrático" Donaldo Schuler cai bem aqui..

    " ..O julgamento constrói uma rede universal de inter-relações. Sem julgar não se vive. Aprovamos ou reprovamos. A indiferença rompe, o julgamento une. Julgamento sempre renovado, processo sem fim." pag 28
    Julgar nada mais é do que fazer suas escolhas!

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  3. muito bom esse trecho do livro! Não conhecia não.

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  4. 8 e 50 na siciliano, LPM POCKET
    vale a penaa!

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  5. "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos.
    Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, dependem das decisões políticas.
    O Analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
    Não sabe o imbecil que sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais."
    Bertold Brecht

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