30 novembro 2009

Lagartixa..

Andei mais um dia por ai, como se passos fossem dar respostas. Vi muita gente, reparei em cada parede, em cada painel e calçada. Virei o pescoço e descobri o mundo.
Há se tivesse acordado antes daquele sonho individual, solitário e auto-suficiente acontecer. Há se tivesse percebido que somos completos e imperfeitos ao mesmo tempo, que nada se basta sozinho.
As fachadas na cidade, as pixações. Pequenas histórias, pequenas mensagens, um pouco de expressão, um pouco de poesia. A particularidade que abarca um todo, um todo construído de particularidades.
Na vitrine de uma loja havia uma lagartixa, uma dessas pequenas histórias, a historia do pequeno réptil. Os carros passavam, as pessoas passavam, e a lagartixa intacta na vitrine. Será que alguém á viu¿ Se viu não matou, e assim ela vai vivendo na vidraça, anônima no centro da cidade.
Talvez sejamos também anônimos, alheios ao universo, talvez sejamos universos particulares e interdependentes. Escrevo diante da janela, na frente da rua, pessoas passam a todo o momento, carros, motos e bicicletas vem e vão. Talvez eu esteja na vidraça esperando algum inseto.
O mundo acontece nos muros, nos sorrisos, nas placas, no barulho do vento, como fragmentos de uma enciclopédia sem fim. As coisas se dependem para existir, a pessoalidade acontece em meio à universalidade.
Depois de tanto caminhar só pude constatar que estava tudo ali, bem na minha frente, uma conclusão óbvia! Conclusões óbvias, são difíceis de entender e até mesmo de acreditar. Como quando descobriram a lei da gravidade por causa de uma simples maçã.
Um outro ângulo irradia todas as coisas agora, é como deixar de usar uma corrente nos pés ou retirar os óculos escuros em um dia de muito sol, como na história daquele mito, ainda hoje vivemos em cavernas.
Acontece primeiro o susto, os pés que já estavam acostumados com a dor da corrente demoram a se adaptar á liberdade, e a retina que quase não via luz se dilata no momento da retirada dos óculos, você se torna cego logo de uma vez ou talvez um louco que não queira ver o que ô cerca, poucos enxergam depois de ver o sol bater forte, a coragem de vencer uma crença é escassa, difícil de alcançar, melhor para os homens enfrentar uma guerra sem sentido, levar um tiro e morrer por uma ilusão do que retirar o véu que encobre todos os ideais forjados.
Os novos sentidos adquiridos aos poucos enquanto a pupila dilata são difíceis de serem explicados, muito diferentes de uma explicação comum, é tão mais fácil viver em um mundo particular e continuar com os ideais, com as crenças comuns de não precisar de nada alem de si próprio. O que há agora não é um egoísmo triunfante, é uma vontade que compete para o bem de tudo, é uma lógica sensitiva, se é que isso existe, a luz não existe sozinha ela só acontece se conseguir se infiltrar em todos os cantos possíveis.
A importância das pequenas coisas, dos pequenos milagres, a coragem de acreditar em sonhos, a atenção com algo mais alem da ponta do nariz, é a engrenagem que faz continuar, que não se deixa alienar. Se antes era uma parte desconexa de um todo, agora entendo o processo, ou melhor, sinto o processo. É só fazendo parte do processo que se torna o todo, que se constrói algo, observando as janelas e as lagartixas.
São outras as realizações agora, não que aquelas antigas não aconteçam mais, a diferença está na importância de cada elemento, em saber o que buscamos e porque buscamos. Mais do que querer ganhar, a atenção se volta agora para não perder, para não deixar passar os momentos e as pessoas, pois é tudo aquilo que já temos que faz falta, sentir falta do inalcançável é mergulhar em um caminho sem volta em que nada se basta já sendo ultrapassado no momento da chegada.
Não digo para deixar de lutar, de correr atrás dos objetivos, dos sonhos... Afinal esse é o sentido de viver, mas é preciso ficar atento, com calma e compreensão do todo. Tudo acontece naturalmente como em uma sinfonia, um arranjo perfeito de música, quem resolveu fazer o show sozinho caminhou mais rápido que a velocidade necessária e chegou perturbado no fim da linha.

Obs. Sei que perturbado sou eu com esse texto, porem, entretanto, todavia, contudo, serve pra quebrar um pouco o gelo dos textos estritamente lógicos e politicamente corretos e muitas vezes ate mesmo ...Chatos! Áhh, se não entenderem nada a culpa é minha não se preocupem ...Abraços = )

28 novembro 2009

Pedido de desculpas

Primeiramente gostaria de me desculpar com os leitores, especialemente aqueles que tem nos acompanhado mesmo que de forma discreta desde o inicio.
Esse segundo semestre tem sido um pouco complicado para mim e talvez por isso tenha dado menor atençaão a esse espaço do que ele merece, essa semana não consegui postar um texto a tempo.
obrigado pela atenção e gostaria de fazer novamente um convite para quem esteja disposto a escrever textos para o subestação, estamos de braços abertos para receber outras opiniões.

19 novembro 2009

Da janela do meu quarto.

Foto por: Marco H. Strauss

Assistindo a realidade, apenas pela janela, avisto uma utópica tranquilidade, tal que provavelmente só ficará na imaginação. A qualidade de imaginar aquilo que se quer é fantástica, e através de uma vista, diria magnífica – mesmo que ofuscada por prédios – é possível ir além das preocupações corriqueiras.

Resolvi mudar um pouco o tema essa semana, não mudar de forma drástica, afinal mudanças são lentas e é assim mesmo que devem ser. Por esta semana chega de problemas, gostaria de abrir espaço apenas para discutir uma questão, digamos “religiosa”, não para gerar divergências sobre o tema – se bem que essa é nossa tarefa –, mas para abrir horizontes.

Curiosamente abro um livro esta semana e começo a lê-lo, tal livro intitulado “Violetas na Janela”, uma obra ditada pelo espírito Patrícia e psicografado pela médium Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho. Espiritismo. Já havia lido algumas obras sobre o tema, nada de mais, apenas supostas histórias, das quais não recordarei nem a primeira letra do título. Com certeza nenhuma delas deixou tão claro e ao mesmo tempo tão incógnito em minha mente algumas coisas sobre o além – ai chegam as indagações sobre além dos problemas, além da vida.

O livro mostra como seria o “paraíso” através da visão espírita, muito curioso e que sem dúvidas deixa muitos pontos de interrogação. Como falei, mudarei de assunto, mas impossível mudar completamente, sendo assim, nestas leituras sobre um possível “além”, através de citações da obra, recordo-me de algumas crenças que já haviam me feito refletir. Trata-se da nossa tarefa em terra, como, por exemplo, por que algumas pessoas nascem tão ricas e outras tão pobres? Ou, por que uns morrem velhos e outros não saem da sala de parto? Coisas do tipo, perguntas sem respostas ou com respostas não provadas.

Não se trata de discussão sobre essa ou aquela religião, apenas certo conformismo sobre muito do que acontece em terra, não seria aqui o lugar onde pagamos por “crimes” que já cometemos? Uns roubam, outros pagam. Muitos morrem, muitos matam. Tratará a natureza de, no seu devido momento, punir e dar merecimento a cada um de nós? Talvez todos estejam apenas cumprindo tarefas, se sofre, é porque um dia já fez sofrer, se goza é por já ter sofrido de mais, carma chama-se para alguns, não é? São essas crenças que me fazem olhar para a vida e para as pessoas com mais otimismo.

Esse é um texto fora do comum, estranho pela sua forma e pelo seu tema, mas penso que deve haver algum motivo para tantos casos vergonhosos e extremos que citamos semanalmente nesse humilde blog (se não há explicação então a inventamos para tornar as coisas mais compreensíveis).

P.S.: Cito, para esclarecimento que não sigo nenhuma religião, apenas tiro proveito o que de melhor vejo em cada uma. Entre todas elas, o espiritismo é uma das quais mais me agrada, apesar de discordar de muitas coisas e agregar à minha crença muitos outros pensamentos.



13 novembro 2009

Obra de Zé Cesar (Professor da FAV-UFG)
A região da cidade onde moro (Região Norte de Goiânia) costumava ser traquila, frequentemente chamada de "roça", longe, outra "cidade", enfim, mas eu gosto do pouco trânsito, andar a pé, menos poluição do ar, sonora, visual, casas baixas, dava até pra ver uma paisagem legal dos prédios lá longe. Porém isso está mudando, a área parece ser agora a mais nova zona de expansão imobiliária. Os terrenos estão sendo terraplanados, grandes muros erguidos, belos folders publicitários distribuídos, stands de vendas montados. Um grande shopping será construído, o maior da cidade dizem, também está sendo construído um parque com bosques e lago.
Uma maravilha para alguns, a especulação está em alta, juntamente com o valor dos aluguéis. Outros estão exultantes: terão um shopping pertinho, comodidade para o consumo. Porém não pretendo escrever aqui nenhum desabafo já saudoso. As mudanças acontecem, prefiro me ater em como elas se dão e que rumos tomam.
O modelo parque, shopping, prédios e condomínios parece ter boa aceitação em Goiânia. Ao observar, pode-se perceber que outras regiões seguiram um caminho parecido. Claro, o shopping e o parque valorizam os imóveis, atraindo os empreendimentos imobiliários. O que me chama a atenção é como a iniciativa pública se confunde com a iniciativa privada nesse momento. Por que só agora a prefeitura está construindo um parque? Há tempos existem bairros e um número razoável de moradores na região. Se a prioridade fosse mesmo o bem estar da população esse parque já estaria aqui há muitos anos. Um indício de como o Estado muitas vezes prioriza mais os interesses privados ao invés de interesses públicos. Afinal após saturar outras áreas com prédios, as construtoras precisam de um novo local para continuarem a fazer o mesmo e, a fim de aumentar a lucratividade, nada melhor que elementos valorizadores como o parque e o shopping.
E assim, sucessivamente, a cidade cresce, cresce, cresce, até quando?

08 novembro 2009

O preço

Quanto vale uma pessoa
Quantos são seus sonhos
O que ela precisa
Vale tão pouco
Ou vale muito
Se tudo tem seu preço
Há aquelas que não valem nada
Tudo que não tem preço
Não vale nada

A maioria vale alguma coisa
Umas custam caro
Outras roupas e sapatos
Quem não tem seu preço
Sucumbi na exclusão
Morre na desilusão
Na bala de uma emboscada
Mas livre vive no entanto
Experimentando o vento
Nas asas do que não é permitido
Pensamentos
Senhores de si
Os livres são poucos
São alegres ou tristes
O meio do caminho não existe

05 novembro 2009

O R.U de Balzac..

Na obra ilusões perdidas de Balzac, é contada a historia de um poeta que sai do interior da França e vai tentar a vida em paris, de forma que em um momento de sua estada na cidade das luzes o poeta se torna estudante realizando pesquisas em bibliotecas e passando dia inteiro atrás dos livros. Nessa parte da historia o protagonista sobrevive com pouco dinheiro, sendo assim obrigado a adaptar-se a uma vida modesta, é ai que entra o flicouteux na narração, sendo uma espécie de RU (restaurante universitário ) parisiense tendo um papel importante na construção da oposição entre moral romântica e moral moderna tão bem relacionadas por Balzac.
O “r.u parisiense” era freqüentado por estudantes, escritores, poetas, reacionários etc, em sua grande maioria indivíduos que se opunham a ordem vigente, fosse no campo literário, político, musical, das artes plásticas, filosófico ou cientifico. Quem não fazia oposição as ideologias reinantes inseria-se com mais facilidade na sociedade francesa, tendo assim, um maior retorno tanto do ponto de vista financeiro como social, não precisando freqüentar um restaurante simples do tipo flicoteux. A imagem sempre foi tudo, e nessa época não era diferente, antes de qualquer coisa era preciso freqüentar “bons” lugares para ser aceito.
Lucianno chardon é o poeta personagem principal do livro, um iludido com a aristocracia, que almeja desde as primeiras páginas fazer parte da alta sociedade francesa. No seu momento de maior lucidez o poeta escreve um livro e vive modestamente, almoçando e jantando todos os dias no “RU” do século XIX, onde conhece quem ele descobriria ser mais tarde, seu único e verdadeiro amigo em paris.
Esse amigo de Lucianno o apresenta a um grupo de jovens intelectuais ansiosos por se tornarem elementos transformadores da França, que se encontrava em um momento de tensão, pois o país havia experimentado a maior revolução da historia mundial, calcada nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade e, no entanto vivia o momento da restauração, com o retorno do poder do rei e da igreja, a nobreza voltava também, assim como seus privilégios.
Não é a toa que chamo essa parte na qual Lucianno freqüenta o restaurante, de o momento mais lúcido do protagonista, a obra não se chama ilusões perdidas por acaso, o poeta, um verdadeiro interiorano se deslumbra com as dimensões de paris e com o luxo da aristocracia, deixando de lado seus ideais e até mesmo seu caráter em busca de uma vida de fama, sucesso e diversão, o seu momento RU foi sem dúvida o mais coerente e mais fundamentado.
Quando Lucianno se faz lúcido, por meio de seus amigos e da existência regrada que os custos de vida o impõem, ele parece compreender por um momento o funcionamento do estado, o real lugar de cada individuo no mantimento de uma hierarquia social injusta.
Talvez traçar um paralelo entre um restaurante citado em um livro de Balzac, que se passa no período da restauração francesa com um outro restaurante que existe hoje em Goiânia-Go seja um pouco de ousadia, mas o pensamento e a reflexão nascem da comparação e da observação.
Balzac criou personagens tão completos, com elementos psicológicos tão próximos do real que é difícil ler uma de suas obras e não identificar um sentimento ou algum modo de agir, seja em si próprio ou em algum amigo, parente ou conhecido. Se trouxermos o “RU” de Balzac para atualidade, perceberemos que nem tanta coisa mudou, sobretudo quando analisamos os freqüentadores do restaurante e suas aspirações.
No século XIX quem comia no flicouteux era geralmente quem não estava tão preocupado com a imagem e sim com um objetivo maior, uma forma de realização pessoal, uma realização plena que só vem com o esforço individual. Hoje no século XX os clientes desse “Flicoutex” remodelado, buscam em sua grande maioria concluir um curso superior, um projeto de pesquisa, enfim, formas de realização pessoais também alicerçadas na dedicação e no esforço.
Tanto em 1820 como em 2009 percebemos um comportamento semelhante entre os clientes dos restaurantes citados, são pessoas que tem uma noção (mesmo que reduzida em alguns casos) de todo, que conseguem e conseguiram enxergar a dimensão real dos acontecimentos. Essa dimensão que chamo de real é a do entendimento do quanto à sociedade seduz o cidadão a comungar de certos padrões, que na maioria das vezes são prejudiciais a si próprios.
Em outras palavras, o simples hábito de almoçar demonstra o quanto alguém é ou não influenciado, vejamos o caso da maioria dos estudantes, que vivem à custa dos pais e não são ricos: Uma boa parte vai querer almoçar em um lugar mais chique e mais caro para acompanhar um padrão, enquanto um outro grupo mais sóbrio terá noção da sua condição de estudante dependente e assim sendo terá certa parcimônia, afinal de contas não estamos em um país de ricos, e fazer uma imagem à custa de quem trabalha para sustentar seu progresso intelectual não é lá algo muito moral.
O primeiro grupo citado representa aqueles que são iludidos, os que farão de tudo para conseguir andar com o carro do ano, viverão para pagar um custo de vida desproporcional a seus ganhos, exatamente como Lucianno vai fazer no livro, antes é claro de se endividar e ter que fugir voltando de cabeça baixa pra sua cidade natal. O segundo grupo é o dos que são lúcidos, dos que conseguem enxergar longe e que com certeza gozarão da plenitude e do equilíbrio, não se juntando ao coro dos ludibriados.
Claro que o simples habito de almoçar ou não em um restaurante universitário não pode servir de base para classificar tipos comportamentais, até porque acredito que as pessoas não podem ser classificadas como fazemos com simples objetos. Quando falamos de seres humanos a generalização é sempre uma perda irreparável, mas esse simples paralelo entre os dois restaurantes muito me chamou a atenção, é impressionante um livro do século XIX descrever uma sociedade que se parece tanto com a atual em que a imagem ainda é o que há de mais importante, as revoluções parecem não ter sido suficientes para barrar o sangue azul, porém por outro lado, ainda existem os que enxergam mais a frente, muito alem de suas roupas ou do lugar em que almoçam e é perto desses que quero estar sempre.