28 maio 2009

O brasileiro do futebol

A garra para lutar por resultados, a fúria da cobrança que caí sobre quem não veste a camisa do seu time, a revolta, mas também a alegria e o amor, tudo isso é visível em qualquer torcedor de corpo e alma em todos os cantos do mundo, ou melhor, em todos os lugares do mundo. O torcedor brasileiro é algo incrível, famoso pelo apoio e dedicação que reserva para seu time e para seus ídolos. Conhecido como país do futebol, mesmo a Inglaterra tendo um público na segunda divisão 50% maior do que a do Brasileirão (mas isso não vem ao caso agora), o Brasil revela diariamente fanáticos pela pelota, fanatismo que começa na infância, na ida ao estádio com o pai ou sentado a frente da TV em meio a gritos e discussões.


Como bem dizem algumas propagandas atuais transmitidas na TV aberta, torcedor enfrenta tudo, gosta de coisas inimagináveis, falta trabalho para ver o jogo, fica na fila para garantir o ingresso, deixa de lado família, amigos ou qualquer um que tente se meter nesse amor eterno. Temos provas desse amor diariamente em qualquer meio de comunicação. Vemos brigas sem razão, mortes por motivos bobos e muita violência, tudo em vão.

Em vão? Tu é louco, devem perguntar nossos torcedores. Isto tudo é por um motivo, um motivo único, verdadeiro, o amor. Ah o amor, não podemos explicar, apenas sentir.


Pergunto agora aos torcedores que temos nesta longa extensão de terra chamada Brasil: E quanto aos políticos? E quanto às condições que vivemos? Nada farão? Pois seria agradabilíssimo se usassem toda essa raiva para reivindicar contra a política, contra a roubalheira e toda essa farra que os políticos fazem com nosso dinheiro. A única coisa que sabem fazer é fechar os olhos, não leem um jornal, apenas os esportes claro, não sabem o que se passa na “vida real”, vivem apenas um mundo ilusório, enriquecendo os outros ao invés de pensar no seu próprio futuro. Não quero julgar ninguém (ou quero sim), afinal todos sabem o que deve ser feito (ou não sabem não).


Grite, proteste nos estádios, esse é um direito, todos merecem respeito. Vocês se doam para apoiar um grupo e em troca precisam de resultado. Mas não querem respeito daqueles que estão onde estão por nossa causa? Aqueles que são responsáveis por nosso dinheiro e nosso futuro, nosso verdadeiro futuro? Protestem, tudo isso é saudável, mas protestem por algo que valia a pena e não por coisas supérfluas que não trarão benefício algum, a não ser a graça de ver seu time levantando uma taça.


Escrevo este desabafo após ver uma reportagem sobre bravos torcedores do Fluminense protestando contra seu time. Quem nos dera ter gente assim em Brasília fazendo o mesmo. Ficam apenas pensamentos para refletir.

21 maio 2009

Continuando

Continuando o assunto tratado aqui no blog semana passada, hoje venho defender as cotas em universidades publicas para alunos de escolas públicas. No entanto, é com muito pesar que me posiciono a esse respeito. Pois a existência das cotas para escolas públicas é o reconhecimento, por parte do próprio Estado, da precariedade da educação pública em nosso país.
Triste realidade, quando essas cotas são apenas paliativas, antes não fosse preciso elas existirem. Mas são necessárias. Mesmo com o possível argumento de que o melhor seria investir na educação pública como um todo (sim, essa seria a melhor solução possível), os resultados desse suposto investimento levariam anos, ou décadas, deixando ainda milhares de fora. E, infelizmente, nada indica que isso vá acontecer. A solução mais imediata é, então, as cotas.
A necessidade desse tipo de cotas evidencia a forma como a educação foi e é tratada por aqui. Frequentemente se vê propagandas institucionais valorizando a educação, colocando a educação em primeiro lugar, uma forma de mudar o país. Porém não é bem isso que se constata na realidade: escolas padronizadas, superlotadas, estrutura física precária, baixo salário e pouca valorização dos professores, entre outros fatos. Nos últimos anos se estendeu o alcance da escolarização, porém a que custo? Massificou-se a educação, no entanto que educação é essa proposta para "todos"? Educação para todos, mas só até certo ponto, para a maioria apenas o básico e para alguns poucos as oportunidades e o poder que o conhecimento gera, isso é o que vemos acontecer.
Situação difícil de mudar e que talvez tenda a se intensificar. Pois vivemos em épocas neo-liberais, prega-se a interferência mínima do Estado (menos nos momentos de crise, mas essa é outra história), entrega-se tudo ao mercado, inclusive a educação, é só comparar o nível de escolas particulares e públicas (e não só educação, também saúde, segurança, lazer...). Ou seja, quem tem recursos para pagar, para comprar, para consumir tem acesso; quem não possui recursos é deixado à margem.
Dessa forma a educação dificilmente poderá ser um fator de mudança da sociedade, ela acabará por apenas refletir e reproduzir essa mesma sociedade com suas injustiças e desigualdades. As cotas, assim, podem ser uma forma de amenizar esse processo, de garantir um mínimo de oportunidade para quem, antes, estaria excluído.

14 maio 2009

Os 121!


Ontem dia 13 de maio, dia da assinatura da lei que aboliu para sempre a escravidão (oficial diga se de passagem) no Brasil.


13 de maio de 1888, hoje 14 de maio de 2009 fazem 121 anos e um dia que o Brasil ia se soltando das amarras de um tempo ultrapassado, de poucas fabricas, poucos consumidores, tempo em que as diferenças entre seu próprio povo eram ainda legitimadas pelo estado, enquanto outras nações eram de fato nações e tinham orgulho de sua constituição, nós tentávamos esconder nosso passado financiando a vinda da Europa de quem quisesse vir difundir sua cultura, para que a nossa fosse então sucumbida pelos ideais do outro lado do oceano.


Cento e vinte um anos, tempo aproximadamente  de três gerações, ou seja, seu bisavô ( sempre me referirei ao termo masculino pois se já era difícil a inclusão masculina na época, a feminina era quase impossível) nasceu próximo ou viveu na época da abolição.


Agora vejamos, o avô do meu pai veio ao Brasil tentar sobreviver, fugindo das dificuldades em sua terra natal, e por mais que houvesse dificuldades aqui, ele era um homem branco e assim sendo conseguiu deixar a duras penas um legado de educação para seus filhos, e as gerações seguintes se estabeleceram então com maior facilidade. Os bisavôs negros foram substituídos por esses homens brancos que nem se quer eram brasileiros, quando chegou à hora de pagar salários e só então reconhecer os serviços prestados por décadas, à aristocracia preferiu marginalizar quem era nascido aqui e trazer de fora a força de trabalho.


Menos de um século e meio, é impossível que um povo se recomponha em tão pouco tempo, sem que esforço algum  fosse feito para modificar essa situação. Digam o que quiserem, o que eu vejo é que o estado tem sim uma grande divida a ser paga e não é ao FMI ou ao Banco Mundial, é ao negro Brasileiro.


Hora, se herança é passada de pai para filho, divida também, não podemos decretar essa moratória, não seria injusto para ninguém, injustiça é o que ocorre de uns poucos sendo tão beneficiados á tanto tempo, afinal há verdadeiras múmias e dinastias nas cupulas do poder, quem nunca ouviu falar da família Caiado, por exemplo? O povo que está longe da política institucional pede uma pequena parte do bolo que  no entanto é sempre negada ou cocedida como se fosse esmola.

Por isso sou a favor sim das cotas em universidades públicas, e não agüento mais aquele discurso clichê, que só demonstra a pouca retórica de quem esta argumentando “ Há então você apóia as cotas porque acha que o negro é mais burro?” em primeiro lugar eu não acho nada, porque achar é coisa pra quem não tem o mínimo de certeza em suas opiniões e em segundo lugar detesto que coloquem palavras na minha boca, quando falamos de cotas não estamos falando de capacidade intelectual, e quem vai por esse caminho me assusta! As cotas  são nada mais, nada menos, do que uma forma de tentar reduzir a disparidade social em que o Brasil se encontra, e de pagar essa divida histórica pela crueldade que é privar alguem do seu direito de liberdade. Já era passada a hora do estado começar com esse tipo de ação que visa a inclusão, que visa a igualdade entre as classes(ai falo das cotas em geral) basta ver a sala de um curso de medicina para se ter noção dessa situação, de quantos ali provem de uma família pobre, de quantos estudaram em escola pública.


Talvez nesse texto marcadamente opinativo em que não me preocupei em apresentar muitos dados, já que dados temos por todos os lados e opinião ainda é algo meio escasso nos meios de comunicação, eu tenha repetido muito a palavra negro, e digo que não é por mera pouca experiência que tenho em redigir textos, e sim por opção própria que utilizei a repetição. Os sinônimos que academia “inventa” como Afro-Brasileiros, por exemplo, não me agradam muito, estava tentando me lembrar quantas vezes alguém ao se referir a minha nacionalidade, ou grupo cultural, disse algo diferente de goiano ou brasileiro, e vi que isso nunca aconteceu, nunca colocaram um prefixo antes da palavra  brasileiro para se referir a mim, cheguei a uma conclusão.. brancos nascidos no Brasil são brasileiros por excelência, segundo esse tipo de definição, enquanto negros nascidos no Brasil, por mais que seus antepassados já estejam aqui a 400 anos ainda carregam o prefixo Afro .


Sem falar que Afro em si é muito vago, Afro remete a África que é o segundo maior continente do mundo, o termo não carrega uma identificação cultural, apenas uma identificação territorial que é muito vaga, os livros de historia ao se referir aos imigrantes Europeus diferenciam os povos de acordo com seu local de origem e sua cultura, enquanto que, ao se referir a diáspora forçada dos  africanos  para as Américas, pouco se importam em mencionar de que local do continente vieram a maioria desses africanos. Não me surpreende que seja corrente o erro entre as crianças de se referir a África como sendo um único País, devido a forma homogênea em que os diferentes locais  desse continente são  tratados nas escolas.


Quando deixamos de combater uma injustiça, quando fechamos os olhos para os acontecimentos, quando não resgatamos nossa historia, vamos nos tornando um povo sem cultura, ate que ponto sermos taxados de povo pacífico é algo positivo? Pacífico não pode querer dizer sem luta, sem consciência, precisamos de uma memória melhor e quem sabe daqui um tempo o dia da abolição ou da consciência negra seja feriado nacional, para lembrar a luta de nosso povo e não apenas dias religiosos e independências forjadas.


07 maio 2009

Divergências...mas com moderação.



A crença em Deus deve ser tratada com todo cuidado, afinal é um assunto muito “perigoso” e que gera muita polêmica. No mundo contemporâneo apresentam-se diversas religiões, mas todas com um mesmo propósito, crenças diversas, sobretudo com o mesmo intuito.


Nada seria de nós se não tivéssemos nossas crenças em comum, se não buscássemos um “fim” igual. Todos querem acabar no paraíso, seja com 40 virgens a sua espera ou apenas descansar sobre nuvens brancas. A sociedade só pode ser formada se tudo (ou quase tudo) correr para um mesmo lado, caso contrário aconteceriam muitos acidentes. Vemos muitas divergências políticas, religiosas e culturais, mas se todos forem questionados sobre a existência de um deus, de um lugar melhor após a morte a grande maioria optará pelo “sim”.


Reprovo muitas atitudes de religiões, de gente que visa apenas o lucro em troca da enganação dos outros, mas o que seria desses “outros” sem esta enganação? Viveriam sem uma crença e alguém para guiá-los? Provavelmente não. Em toda vida buscamos algo de útil para fazer, conquistar tudo que sonhamos e empregar nosso tempo da melhor forma possível, mas dificilmente teríamos tanta vontade se soubéssemos que tudo acabaria sem nenhuma recompensa no final da vida. Inconscientemente trabalhamos por um bem maior, lutamos pelo êxtase da vida, mas visamos com prioridade o bem que virá, aquilo que conseguiremos depois, algo maior que nunca saberemos realmente o que será.


Desde pequenos somos encaminhados a acreditar em uma coisa, normalmente seguindo aquilo que os pais (ou simples criadores) levam por verdadeiro. Poucos, pouquíssimos por bem dizer, mudam e buscam outra forma de crença, novos conhecimentos para de forma consciente saber o que é o “melhor”. Quando tratamos de religião, as coisas são muito mais complicadas que política ou futebol, diferente do que muitos dizem. A religião trata-se de uma crença, mesmo que inconsciente que muitos trazem da vida toda, acreditando fielmente naquilo e levando sua vida de acordo com sua religião, seja fazendo o bem (termo muito relativo no âmbito religioso) ou batalhando por outros objetivos.


De certo modo, somos todos religiosos, seguimos muitas crenças e precisamos de tudo isso para nos sentirmos realizados, afinal nada funcionaria sem este “bem maior”. Como numa empresa, os funcionários precisam acreditar no objetivo da corporação para se empenhar de forma total nas tarefas, assim funciona a sociedade. Julgamos muito e não nos conformamos com as divergências, mas devemos entender que cada um vive de forma diferente, logo o pensamento também diverge. Vivemos todos num mundo de mentiras. Um mundo onde até mesmo o relativo é relativo. Nada é absoluto e todos são variáveis. Nossas crenças vão de acordo com o modo de vida e os pensamentos podem ser diferentes, mas todos buscando um bem maior para que a roda da vida continue a girar.  

01 maio 2009

O inferno são os outros

(Foto de Spencer Tunick)

Diversidade. Apesar dessa palavra e idéia estar bastante difundida, ainda há muito que se conquistar. Diversidade de pessoas, de tons de pele, de idéias, de pensamentos, de religiões, de comportamentos, de idades, de sexualidade, de modos de se vestir, de modos de vida, de origens, de identidades, de costumes, de línguas, de verdades, de crenças, de valores.

Escrevo isso porque, mesmo com todos os avanços, vejo vigorar, muitas vezes veladamente ou abertamente, inúmeros preconceitos. Para exemplificar, algumas frases que já ouvi no dia a dia: “Eu não tenho preconceito, mas na minha cama só branquinhos”; “Posso até aceitar a pessoa, mas a homossexualidade nunca”; “Ah, fulano é um maconheirinho”; e por aí vai.

Reconheço que todos, inclusive eu, de alguma forma criam seus preconceitos, é até inevitável. Acabamos por ter essa necessidade de classificar, categorizar, pré-conceber o que ou quem não conhecemos direito. Porém, para contrabalançar tal tendência, é preciso estar aberto, ser flexível, entender que o que julgo ser verdade é valido para mim, no entanto os outros não têm obrigação nenhuma de seguir meus padrões.

Não é fácil, as diferenças incomodam. O confronto com os outros incomoda. Pois cada um tem sua liberdade. As atitudes alheias podem confrontar o que mais prezo, meus valores mais arraigados. O confronto com os outros me tira da posição central que erroneamente posso pensar ocupar no mundo. No confronto com os outros eu sou apenas mais um entre milhões, minhas idéias são apenas mais uma entre milhões. Talvez para muitas pessoas seja mais fácil se apegar aos preconceitos do que admitir essa realidade.

Contudo, por mais complicado que seja, é impossível fugir dos outros. Ao mesmo tempo em que pode incomodar, é nesse confronto que me construo. Nenhum ser humano se faz sozinho. Minha identidade é construída com base nos parecidos comigo e também nos diferentes. Para haver uma identidade negra é preciso haver outra identidade diferente, branca por exemplo. Para haver uma identidade feminina é preciso que exista a masculina. Paradoxal: o grupo ou pessoa alvo de preconceito é também necessário(a) a quem comete esse preconceito.

Enfim, para quem vive de cultivar preconceitos (utilizando uma frase de Sartre) o inferno são os outros.