29 abril 2010

Pseudo-orgulho

Certa vez me abracei a bandeira brasileira. Com o peito estufado vibrava algumas palavras do hino nacional, como se fizesse parte das coisas mais importantes da minha vida. Em meio a isso, me pediram o porque de tanta frescura. Para que esse patriotismo idiota? Não pude conter a surpresa, mas não dei muita bola. Achava ser por causa da seleção brasileira. Com o passar do tempo, finalmente consegui entender porque aquela pessoa tanto repugnava ao ver meu amor pela pátria. Começou com a seleção, que tanto me orgulhava, me decepcionando. Tudo bem eu ainda não entendia muito da vida, mas já foi uma decepção, uma grande decepção. Os meus heróis de guerra passaram a ser vilões.

Pois bem, aquele sonho de servir o exército que vinha desde criancinha começou a fazer parte do passado. Tive a sensação de preferir defender muitos outros países a defender meu Brasil. Tudo isso não podia se resumir a uma decepção no futebol. Foi então que comecei a prestar atenção no mundo a minha volta. Com o crescimento no intelecto fiquei sabendo de coisas que nunca antes imaginara. Vergonhosa comparação do que aconteceu no Brasil colônia em relação ao que aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo. O meu remorso pelo patriotismo começava a engatinhar, e não demoraria para levantar e dar os primeiros passos.

Cada dia lembrava mais da pergunta que me fora feita tempos atrás. A surpresa da falta de patriotismo de alguns já não aguçava mais minha indignação. Com o passar do tempo fui achando cada vez mais respostas para o cara que tanto repugnava com minha atitude. Comecei a me interessar na política. Na história. No passado e no possível futuro do país. Quase fiquei cego ao acompanhar as notícias e ler livros sobre toda essa vergonha. Não poderia estar mais claro o real motivo de tanta indiferença com o país da maioria das pessoas. Foram nestes dias que o hino nacional apagou da minha memória. Me envergonhei por cada 7 de setembro ao sol, marchando. Tive vontade de chorar só em lembrar como tentava, a todo custo, decorar o hino nacional para não fazer feio. Era lamentável.

Hoje sou julgado. Sou julgado por não manter mais esperanças. Sou julgado por sonhar em viver em outro país. Ninguém me entende quando falo que não há razões para acreditar no Brasil. O problema é que esses não passaram pelo que passei. Vivi decepções que jamais serão apagadas. Fui abandonado pela pátria-mãe, ou melhor fui abandonado por seus filhos que tiraram tudo que ela tinha e nada deixaram para seus outros herdeiros. Muitos me recriminam quando digo que não queria ser brasileiro, mas isso é mais forte que eu. Um dia já tive orgulho do país, dizia com todo ar de meu pulmão: eu sou brasileiro! Sonhava em poder jogar na cara dos outros isso, dizer que aqui não tinha terremoto, que aqui pouca gente morria, que aqui era tudo bom e sereno. Nós tínhamos a melhor seleção de futebol do mundo! Utopia de infância. Mal sabia eu que era tudo mentira. Hoje sou envergonhado por isso.

Ainda há um resquício de orgulho, infelizmente não pelo Brasil. Orgulho do meu estado, assim como cada um deve ter do seu. Mas o Brasil como um todo já não funciona. Os estados também não, mas foi o que restou. As pessoas já não se importam com as coisas de real relevância, um tira vantagem do outro. O Brasil é um país unido apenas nas suas classes baixas, mas nem isso. O pobre rouba do mais pobre. O rico rouba do pobre. O pai rouba do filho. Não há mais ética, educação, respeito. Ninguém escuta a opinião do outro, todos são donos da razão. O Brasil é um país perdido.

Hoje me abraço a bandeira gaúcha. Canto o hino rio-grandense, que está na ponta da língua. Sou embalado por músicas que não saem da cabeça do gaúcho. Ao som de ‘amigo punk’, de ‘céu, sol, sul’, tenho orgulho do meu estado. Todos temos orgulho, cada um do seu. Ao som de ‘peleia’ eu digo: Pele-pele-peleia eu não vou fugir desta guerra não / Não vou deixar eles fuderem minha terra não / É mais fácil morrer estar lutando eu nunca vi peão gaúcho se entregando / Macho não é quem bate na mulher / Homem eu vou dizer o que que é / Gaúcho macho do chão farroupilha protege e ama a sua família...”. O problema é saber até quando isso vai durar. Espero todos os dias que alguém me dê um motivo de decepção. É questão de tempo. Não existem mais políticos que tenham orgulho de sua terra e lutem pela sua gente, isto é fato.

15 abril 2010

Da arruda ao Arruda

A arruda é uma planta denominada de diversas maneiras: arruda-fedorenta, arruda-doméstica, arruda-dos-jardins, ruta-de-cheiro-forte. A plantinha é muito vista em jardins, casas, floreiras e ‘acompanha’ muitos seguidores da boa e velha horta. Usada por muitos com finalidades medicinais, a arruda acalma – dizem os mais velhos – faça-se chá, então. Até para piolho – dizem eles – é bom.

Quem dera se toda arruda fosse boa. Quem dera que as (os) arrudas que falamos corriqueiramente tivessem apenas seu cheiro forte, cheiro este que na maioria das vezes nem incomoda, até agrada ao olfato. Pois para os brasileiros Arruda é motivo de dor de cabeça, é motivo de indignação e um grande motivo de preocupação. Assim como a plantinha cultivada em jardins de todo mundo, Arruda do DF foi uma escolha, ninguém obrigou ninguém a ‘plantá-lo’ lá; a opção foi dada. Também pudera, quem saberia que a arruda plantada poderia ter veneno, ou pior: atrairia malditas pragas.

Pode estar longe, as vezes nem importa. – Coisa pouca – diriam uns. O problema é que o cheiro da arruda pode chegar mais perto e é ai que a indignação aumenta. Como na arte da ‘medicina caseira’ poderia arruda apenas servir para espantar os piolhos, mas do contrário atrai cada vez mais. É difícil entender como continuam tentando plantá-lo por ai, ao invés de deixá-lo plantado no chilindró. Parece que alguns insistem em usá-lo atrás da orelha, talvez usando de inspiração os que saem por ai com galho de folhas da planta de mesmo nome no mesmo lugar. Livrem-se disso, de nada serve. O pior é que o cheiro com certeza impregnará naqueles que andam por ai com arruda – ou Arruda. É espantoso a soltura de tal surrupiador, mas como se trata do Brasil é crível.

Tal democracia

Um dia me disseram que o Brasil era um país livre. Fiquei aliviado, afinal ficava apavorado com Cuba ou o país norte-coreano. Um dia também me falaram que o Brasil é um país de mentirosos, mas isto já sabia há muito. Saibam aqueles que ainda não sabem que o jornal O Estado de S. Paulo já está censurado há mais de 250 dias, mas nunca mais se falou sobre o tema. O filho do presidente do senado “Sarneyzinho Jr.” – ops, Fernando Sarney – que apresentou recurso judicial para censurar o jornal “de publicar reportagens que contenham informações da Operação Faktor, mais conhecida como Boi Barrica” (O Estado de S. Paulo, 2009). A justiça aceitou. Tudo isso é informação ‘velha’, que nunca mais apareceu nos noticiários, porém o jornal continua sem o direito de liberdade.

Este é apenas um lembrete sobre tal assunto; será que teremos uma festinha para o Estadão no Senado, no Planalto ou em algum órgão público quando os 365 dias chegarem? Acredito que não. Sem coração esse pessoal. Não preocupem-se. Embora muitos tenham esquecido, ainda restam os poucos que lembram, e estes usarão a oportunidade de esclarecer tudo quando possível. Era uma vez um país livre e democrático, um dia ele morreu. Esta ilusão de democracia é pano para outra manga. Logo logo estará por aqui também.

Nada mais por hoje.

08 abril 2010

Dinheiro na mão é solução

Foi-se o tempo que política estava ligada a ideais. Revolucionários que tentavam chegar ao poder com o intuito de melhorar suas vidas e de sua ‘comunidade’, mesmo que fosse do desagrado da maioria da população. Não vejo mais aquele ideal político que deixa as pessoas revoltadas com as barbaridades que acontecem no dia-a-dia. É difícil precisar quando, de fato esse tempo se foi. Talvez há muito já não tenhamos ninguém que realmente se importe com seus ideais e busca uma posição política ou alguma ‘revolução’ apenas com pensamento no lucro monetário que obterá. São impressionantes as histórias – talvez não passem de histórias – sobre homens e mulheres do passado que lutavam e se sacrificavam para um bem maior, sem preocupação com o resto do mundo.

Traçando um olhar mundial percebo que em certos países temos alguns extremistas que podem ser considerados revolucionários pelos seus ideais, por mais injustificáveis que sejam. Mas isso é minoria. Prefiro fixar a visão aqui no Brasil, onde os ideais estão mortos, não existe mais esquerda ou direita, e se ainda existe o limite entre as duas é embaçado. Alguns ainda esboçam uma oposição, mas sabem que no fim terão que se entregar, querendo ou não – mas todos querem. Afinal uma boquinha aqui, outra ali torna as coisas tão fáceis de serem resolvidas. Hoje mais do que nunca as pessoas são corruptas, fáceis de serem manipuladas, materialistas e não idealistas, entregam sonhos por um cargo no governo ou uma mala cheia de dinheiro, algumas nem sonhos têm.

Não faço apologia à revolução. Sou de fato, contra revoluções, mas elas são necessárias. Quem nunca ouviu que o super-herói necessita do vilão para sobreviver? Assim funciona com a política. Não há direita se não tivermos esquerda, não há governo se não tivermos oposição, o equilíbrio natural das coisas precisa ser mantido, e o único jeito de mantê-lo é havendo oposição. O fato é que hoje todos jogam no mesmo time, não há adversário; todos querem sair ganhando, obter os lucros exuberantes sem esforço algum – só o esforço de mentir e surrupiar – e isto basta. É bom que haja paz entre as partes, é bom que não tenhamos que nos revoltar contra nada, afinal quem quer passar por uma revolução? O único problema é que não temos mais ninguém lutando pelo que importa, lutando pelo povo ou pela sua pátria. O dinheiro é o bem maior e todos correm atrás dele e somente dele.

Nosso país está em um tempo onde NENHUM político se importa realmente com as pessoas que o botam no cargo, seja lá qual for. Vemos a mudança repentina que há no comportamento de um candidato em ano eleitoral. Todos ficam bonzinhos, não há inimigos, vale tudo – até dançar homem com homem e mulher com mulher. Não há limites. Vale mentir, inventar, criar PAC 44, PAC 45 e quantos “pacs” o mundo suportar. Não importa o que vai ser efetivado, se haverá ou não algum lucro para o povo, a única coisa que importa é a proposta, falar, mentir, enganar o povo, o resto não importa. São todos assim, não há exceção, políticos não têm caráter, reis da antiguidade tinham mais respeito com seus servos do que nossos governantes têm conosco. As pessoas estão corrompidas e não haverá mudança tão cedo; primeiro temos que mudar nós mesmos, aprender os verdadeiros valores para que consequentemente se mude o resto. Nessas horas tenho vontade de virar monge e viver em algum templo perdido no mundo.

04 abril 2010

O libertário!

Esses dias na porta da faculdade uma amiga disse que achava complicado as pessoas terem facilidade para falarem de diversos assuntos, mas não de Jesus cristo, nem digo religião, digo Jesus Cristo. Estava pensando sobre isso e queria pedir que lessem meu texto, tentando deixar de lado um pouco da resistência ao assunto.

Falar de Jesus em um blog de opinião, em uma revista ou na universidade parece coisa de fundamentalista religioso, parece que não é assunto para a ocasião, apesar é claro, da maioria das pessoas acreditarem e até freqüentarem algum tipo de comunidade religiosa.

Nesse tempo de páscoa, eu que acredito demais em Jesus e não nego, (e nem por isso deixo que minha crença sobreponha a razão) formulei algumas questões do ponto de vista da sua historia e da apropriação dela pela sociedade. Cheguei a algumas primeiras hipóteses, percebi que os estudos que se propõem a estudar a vida de Cristo ligam-se a questões de fé e teologia, sendo difícil encontrar alguma proposta que discuta os acontecimentos em si, e foi isso ponto de interrogação mais interessante para tentar compreender a questão.

A igreja construiu ao redor da vida de Jesus dogmas imbatíveis e inquestionáveis e sendo assim a ciência parece ter se afastado das pesquisas desse acontecimento durante toda a idade média. Depois ao passo que o catolicismo foi perdendo a força, a ideia era se afastar de tudo aquilo que se ligasse a fé nas pesquisas, para que o empirismo do pesquisador não fosse prejudicado.

Assim uma parte importante da constituição do ocidente, em todos os seus sentidos, foi ligada muito mais a ideia de mito fundador do que de uma ruptura na estrutura de poder, através de uma nova filosofia de ver o mundo. Quando falamos em estudar a historia da ascensão do cristianismo falamos em estudar teologia, é interessante falar em teo porque remete a Deus e isso implica muitas coisas, implica inclusive uma carga imensa de misticismo, porem o cristianismo é muito mais um acontecimento histórico de proporções imensas do que simplesmente um estudo de Deuses e mandamentos divinos.

É claro que tenho muito pouca autoridade para falar no assunto, mas penso que não devo ficar calado porque minha opinião é tão valida quanto a de um padre ou de um juiz. Digo isso porque esse texto em específico põe uma questão que a sociedade em geral se nega a pensar, não por ela mesma não querer refletir, mas por existir toda uma estrutura de poder político-religiosa, elencando quem pode ou não ditar as regras na mudança de dogmas nesse segmento social tão presente em todo o estado, que é o religioso.

Deixemos de lado os dogmas do catolicismo ( não falo de outras religiões porque não conheço ) e vamos estudar a vida de Cristo como historia, como revolucionário que esse homem foi, como se estuda Ché ou Zapata nas escolas, é urgente ter uma concepção diferenciada da vida de Cristo, é urgente que outras interpretações sejam feitas como ciência, para entender por exemplo se houve a proposição de um outro sistema econômico, ou de uma afronta ao império romano nessa época. E não basta repetir a bíblia, fatos precisam ser reencontrados e repensados, não sendo uma nova abordagem sobre a ascensão do catolicismo, isso já se tem aos montes, é preciso se possível separar as coisas, e fazer uma busca pelos 33 anos que mais modificaram a forma de pensar no ocidente.

Só para dar um exemplo de como tudo deve ser revisto, uma parte interessante do evangelho me fez ficar sem dormir esses dias, comecei a refletir se Jesus chegou a pregar a igualdade entre homens e mulheres, se isso for comprovado toda uma estrutura religiosa estaria comprometida, já que a superioridade masculina é referendada pela igreja como sendo natural, entretanto fazendo uma leitura superficial (diga-se de passagem) percebi que, em vários momentos Cristo clama pela igualdade entre homem e mulher, e até mais que isso eu diria ele prega a não repressão feminina.

Já devem estar me chamando de louco eu sei, mas chamo atenção para um trecho famoso do texto bíblico “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra” analisemos essa frase : Em primeiro lugar a 2010 anos atrás Cristo defende uma adultera e entende seu ato como natural ao ser humano, sendo que ate pouco tempo no Brasil, o marido tinha direito de se separar se soubesse que tinha sido traído e outras coisas mais para não falar no voto feminino por exemplo. Em segundo lugar e mais importante, ponto chave da questão, quando se diz “Quem nunca pecou” necessariamente entende-se a mulher como parte da sociedade, isso pode parecer lógico hoje, mas naquele tempo não era, quando uma generalização de direitos era feita ( direito de atirar a pedra caso nunca tenha pecado) era generalizada só para homens, esse teor de igualdade é moderno e muito recente, não sendo natural á época, que tinha outra concepção do que era ser um cidadão, e com certeza ser mulher não fazia.

Outra questão chave nessa teoria, é a de que Jesus sempre deu demasiada importância para sua mãe, reconhecendo seu trabalho e sua importância, isso pode parecer comum atualmente, mas o ideal de família e, sobretudo de amor em família e importância da mãe na educação do filho é algo relativamente recente. Mães eram apenas “parideiras”, ou seja, Jesus nessa minha abordagem é muito mais libertário do que a religião propõe, na verdade eu diria até que a religião atrapalha as pessoas em fazer uma investigação mais real e aprofundada da vida de Jesus. Essa investigação poderia abalar seriamente as bases de uma sociedade sustentada no patriarcado e na opressão reflexo de uma estrutura medieval que se assegurava em bases teológicas, é importante lembrar que o segundo maior império do mundo ( talvez até o primeiro) que é o Vaticano, tem pelo menos uma “embaixada” em cada cidade do Brasil, e varias outras no mundo, e o primeiro maior império, os EUA sustentaram seu ideal de liberdade para destruir muitas outras nações em nome de Deus. Isso que trago não é novidade mas não pode ser esquecido nunca, pois mata-se a todo momento em nome de quem disse que se baterem em sua face deves oferecer a outra, se estudarmos mais a fundo esse revolucionário veremos que as mulheres foram para ele muito mais do que meros pedaços de costela, como aprendemos desde pequenos.

01 abril 2010

Incentivo para o lado errado

É costumeiro e marca de independência a posse do carro próprio. Já virou sonho de consumo muitas vezes posto à frente até mesmo da casa própria. Motivo de status e comodidade, o automóvel está cada vez mais acessível ao consumidor que sempre sonhou com seu ‘carrinho’. Há muito tempo, o objeto demonstrava muito mais status que atualmente, só o possuía quem tivesse um grande poder aquisitivo e com certeza não era qualquer ‘pé-rapado’ – sem ofensas, pois me incluo nessa categoria – que conseguia adquiri-lo. Sempre o mesmo papo de globalização e tudo mais é posto na mesa, mas não há como deixar esse processo de ‘evolução’ fora do deste assunto. Vimos que com o passar do tempo, a evolução do homem, da sociedade, do comércio e de tudo mais que abrange o dia-a-dia, as facilidades e condições humanas foram sendo encontradas e com muita ‘luta’ (ou não) chegamos ao ponto que estamos hoje.

É fato que o poder aquisitivo do brasileiro aumentou e a condição de trabalho também está melhor, o povo lutou pelos seus direitos e os têm como troféu que se guarda no lugar mais reservado da prateleira. Nos dias de hoje, há uma facilidade grandiosa em conseguir crédito, por exemplo, o que torna muito mais viável a compra de bens, sejam eles quais forem. Como percebido no início do texto, estou aqui para falar em um bem de aquisição específico: o automóvel. Todas as facilidades encontradas no mercado hoje incentivam o crescimento da compra e venda de carros, sejam novos ou usados e apesar de ser uma tecnologia à nosso favor, o homem está ‘viciando’ de forma não benéfica – alias, acho que vícios não podem ser benéficos. Na cidade onde resido carro não é uma necessidade de ultraurgência, embora facilite as atividades, diferente do que acontece em uma cidade grande que – como o nome já diz – pela sua grandeza, impossibilita que trajetos de certos pontos sejam feitos a pé.

Em cidades grandes ou de menor porte, o vício do carro está impregnado em todas as classes econômicas e isso pode ser considerado um dos grandes males do século – já são tantos. Em uma cidade como São Paulo, por exemplo, seria impossível atravessar a cidade a pé, o transporte público seria o melhor meio, mas nem é preciso comentar as condições de transporte em todos os lugares do Brasil, com certeza com algumas exceções, mas que desconheço. O meio mais fácil então é a compra do carro [ponto] Não há o que se discutir. A cidade pequena torna possível a caminhada, mas a comodidade que o carro trás não. Novamente a compra do carro é a melhor saída [ponto] Claro que muito do que vemos hoje nos grandes centros – e até nos pequenos, afinal minha cidade que tem pouco mais de trinta mil habitantes já está um caos – é culpa do consumidor, da população que não toma consciência de como a vida melhoraria se os carros fossem quando possível, deixados de lado.

Digo que uma parcela da culpa de tudo isso pode ser imposta a nós, mas a parcela é minúscula, afinal somos resultado da sociedade que vivemos, resultado da forma como o governo lida com nossas necessidades e por fim resultado da gana de grandes montadoras. Temos que tomar consciência de que se possível for, deixar o carro na garagem é um ato à nosso favor, porém o que poucos comentam é que o governo deve se conscientizar que incentivar a compra de automóveis da forma que o faz não é o mais correto. Apesar de muito nos beneficiar com empregos e tudo mais, nos prejudica e muito em outros aspectos. Ao contrário do que tem por papel, o governo deixa de lado transporte público – que para mim deveria de estar nas prioridades, junto com saúde e educação (segurança não é tão necessária se há uma boa educação) –, incentiva a compra desordenada de carros, abaixa imposto, facilita crédito, mas não investe em ônibus, metrô ou qualquer outro meio de transporte.

Eu sou mais um brasileiro que acha maravilhoso ter um carro, que assim que possível fará a aquisição do seu próprio, isso é fato, não estou dizendo que não deve haver incentivo de compra, que devemos desistir dos ‘sonhos’ – por mais fúteis que sejam -, mas há de ter além desse tipo de incentivo, o incentivo ao uso de transporte público, o deixando em boas condições. Quanto facilitaria o trânsito se as pessoas que passam horas presas entre carros e buzinas utilizassem de um ônibus ou de um metrô? Só vendo para saber, mas por meus pensamentos acho que muito. Países desenvolvidos normalmente possuem transporte público em ótimas condições, instigando todos a se recostarem e viajarem o invés de tirar o carro da garagem e se incomodar. Países de primeiro mundo possuem transporte e estradas boas, o que torna as coisas muito mais fáceis, afinal o transporte é primordial para o crescimento.

Em suma, o Brasil não está nem perto de uma solução para o transporte público – não que eu tenha notícias ao menos -, possui estradas em péssimas condições, sendo que pagamos altíssimos impostos na compra de carros – um carro no Brasil custa quase o dobro do preço do mesmo modelo comprado na Argentina ou México, por exemplo; sendo que possuímos fábricas de diversas montadoras em território brasileiro – e fora IPVA, pedágio e tantas outras taxas ‘escondidas’. O pior de tudo é que o incentivo a compra de carro continua e não importa se é um ‘pé-rapado’, pois com tantas condições somos capazes de sair da concessionária com um carro zero sem nem um ‘pila’ no bolso. Pessoas sem condições de manter um carro o compram, “afinal ta baratinho né?”. Não é marginalização, não é preconceito, mas é fato que uma pessoa sem condições não pode ter um carro, mas o tem, ai que vemos acidentes por falta de manutenção, falta de dinheiro pra gasolina, inadimplência e tudo mais. Fiquemos calmos, afinal não é culpa nossa; recebemos TODOS os incentivos para comprar, não temos outro meio de transporte decente, logo, compramos (mesmo que um mês depois tentamos a qualquer custo vender, pois não conseguimos pagar nem se quer a primeira parcela). Comprar, comprar, comprar, como zumbis alguns são programados e outros ainda fogem. Espero o dia que o próximo filme será lançado, já prevejo até o título: “O dia em que a terra parou II” – o motivo que não será mais o mesmo, agora o trânsito com seus carros será o protagonista, infelizmente a bilheteria não terá muito lucro, pois todos estarão presos em seus carros financiados escutando buzinas e xingamentos. Nos vemos em alguma rua qualquer.