É engraçado como certas coisas nunca nós abandonam, nascem com a gente e por mais que se tente deixa-las de lado, elas continuam lá, só esperando o momento exato para serem despertas.
Quando ainda nem fazia ensino médio já participava do grêmio estudantil do colégio de aplicação, um dos grêmios mais atuantes na época, importantíssimo na luta por melhorias do transporte coletivo e na defesa não só dos interesses cotidianos dos alunos (melhoria no lanche, melhoria dos horários, abertura para participação nos conselhos finais dos representantes de sala etc) como também do ensino de qualidade e da escola publica como um todo.
Adquiri muita experiência nesse tempo e conheci pessoas ótimas, mas como nem tudo são flores fui me desiludindo aos poucos, perdendo minha esperança e aumentando a desconfiança, não eram poucos os que me chamavam para partidos políticos e tentavam me doutrinar e eu... Eu detesto doutrinas!
Durante o ensino médio deixei o movimento de lado, queria fazer de tudo para me preocupar só comigo e assim ser mais feliz, meu mundo se reduziu aos meus interesses estreitos, e assim as coisas foram seguindo muito bem, embora meu sangue não fervesse mais, os debates, assim como minhas revoltas não ultrapassavam a porta das salas.
Mas como já disse no inicio, certas coisas são inerentes a alma, e sempre que havia eleição para representante de sala eu era eleito como suplente (mesmo que algumas vezes sem querer entrar) e isso não era coisa de nerd, acreditem se quiserem, o cargo de suplente era ótimo, funcionava como uma espécie de advogado da sala. O representante tinha lá suas funções que não me lembro quais eram, mas ambos ( o suplente e o representante) podiam participar dos conselhos, ver a nota de cada aluno e opinar.
O sistema do CEPAE- UFG (centro de ensino e pesquisa aplicada a educação - universidade federal de goias ) era de uma avaliação conjunta, nenhum docente dava a nota sem consultar os demais, e era ai que eu entrava, defendendo os mais ferrados da sala, às vezes até mesmo inventando historias, o argumento porexemplo de que o aluno tinha problemas na família sempre dava certo, amolecia até os mais rigorosos professores.
Assim ajudei a passar muitos colegas, quebrando sempre um código de ética idiota que não nós permitia contar o que acontecia nos conselhos, mas isso não me importava, afinal estava ali para isso, na função única de representar quem não podia participar de escolhas que poderiam mudar suas vidas.
O tempo foi passando e agora estou no direito, após três anos de um curso de audiovisual, por mais que eu tenha tentado me animar para o curso, faltava algo. Era porque não tinha jeito mesmo, acredito que nasci para o direito e agora na faculdade me encontro com colegas rebeldes do tempo de CEPAE, vejo minha identidade novamente como nunca vi no audiovisual, entrei para um grupo de discussão política como nos velhos tempos de escola e meu sangue ferve na vontade de ser útil a alguém, de ser representativo na mudança mínima que seja dessa sociedade desigual, é o que me move e me alegra e embora esse blog não seja um “paginas da vida” pois a ideia é contrariar com essa perspectiva de só falarmos de nós mesmos, eu deixo aqui uma parte da minha história pois é uma historia mais da escola publica e gratuita que formou os cidadãos pensadores do colégio de aplicação do que a minha vida propriamente dita.
É isso, vamos ser nossas profissões, achar nossos lugares, e dentro disso fazer o melhor ! Caso estejamos em abismos da ignorância onde a discussão política é vista como fanatismo, como conduta abominável, não nós deixemos esmorecer pois é esse o intuito dos que não pensam, dos mantedores dessa estrutura sem lógica! Lembremos sempre do nosso lugar de origem e dos nossos espíritos, porque eu sei... Sou e sempre serei um filho do CEPAE e meu único arrependimento foi não ter sido mais atuante quando estava por lá, mas agora após três anos vejo de novo meus camaradas e volto ao mundo da discussão e do pensamento.