15 abril 2009

Quanta banalidade!

O termo Banalidade do Mal apareceu pela primeira vez em um contexto nazista, na obra de Hannah Arendt, "Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal". Contudo, Arendt não elaborou um conceito para o termo citado, apenas concluiu sobre a falta de profundidade e a ausência de enraizamento das razões e das intenções do indivíduo. O que torna o homem tão perverso?

No livro citado, o mal aparece na figura de Eichmann, um homem de pouca inteligência, com uma personalidade marcada pela incapacidade de pensar para além dos clichês e pré-disposto à obediência a qualquer voz imperativa. Hitler, no caso. Nesse contexto de deterioração humana dissolvem-se os parâmetros de bem e de mal, de certo e de errado, de justo e injusto. O homem não pensa e não julga, só age, indiferentemente, como um instrumento do mal, ou seja, nessa situação extrema e perversa o homem é, ao mesmo tempo, vítima e instrumento do mal. Logo, Eichmann é facilmente identificável: é reflexo meu. É a minha hipocrisia. É a minha banalidade gritada. É o meu não fazer nada. É a minha letargia.

E então, no Brasil contemporâneo, distante da realidade totalitária nazista, o mal existe e está em todo lugar. Por isso a banalização. Do criminoso ao Estado. Na dificuldade que tem as famílias e todos os segmentos socioeconômicos de transmitir conceitos éticos e sólidos. Está no binômio pobreza-violência. Está violência policial. Na corrupção. No sentimento de vingança privada quando o crime me atinge. Esse mal, de contexto atual e território definido (O Brasil) possui sim ligação com o mal descrito por Arendt (Alemanha nazista). Ambos surgiram em relação a um sistema, no qual todos os homens se tornaram supérfluos. Mas admitir que o mal que vejo ou que pratico pouco difere do mal de Hitler, é quase tocar em uma ferida. É dizer que sou assassino também. A minha perversão não é tão grave quanto à de Hitler! Não, não é. É pior: é tão Banal quanto.

Banalizaram o mal, em terceira pessoa, pois confortável é não fazer parte da crueldade instalada. Apesar de matarmos gratuitamente, friamente a sensatez todas as vezes que paramos diante do muro que isola o nosso bem-estar e procuramos resolver tudo, de crime a receita de bolo, com a própria violência. Violência por violência. Maldade! Aplicação consciente da Lei de Talião. E é aí que o perigo mora. E é aí que o mal banal se instala. Por aí acontece a barbárie, já que a justiça não é feita a contento. O capitão Nascimento é o melhor que podemos esperar dos nossos policiais? Pouco me importo se Dantas é preso ou não? Os Nardoni merecem pena de morte? Nesse ponto some Direitos Humanos, a moral, a democracia e tudo quanto é conquista. Ao final, olho por olho e dente por dente nada mais é que inevitável.

6 comentários:

  1. Nossa muito bom, pensar nesse ponto do olho por olho dente por dente, gostei quando fala da banalidade gritada, quando se considera o não uso dos direitos humanos pra julgar quem quer que seja , é o que acontece hoje quando a policia parece desafiar toda e qualquer ética, quando achamos normal o policial entrar metendo o pé na porta ou matando bandidos na rua estamos achndo normal a ditadura por exemplo, que por sinal nunca teve seus crimes julgados..
    é a banalização do mal, da falta de respeito, achamos natural que se abordem mais negros do que brancos, que a policia mate descaradamente sem fazer nenhuma sentença previa, queria ver se a classe media acharia isso normal se os afetasse diretamente como quando aconteceu com os policiais que mataram uma criança no rio, o erro deles : matar um inocente que tinha alguma influencia.

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  2. Olho por olho e o mundo acabará cego.

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  3. Realmente o tal do "olho por olho" jamais funcionou e jamais funcionará. Mas é a única saída no momento, mesmo que seja uma saída direto para um abismo. Para acabar com isso temos que ter mais inteligência do que àqueles que os crimes cometem, mas se não podemos isso, então deixá-los saírem impunes? Usamos do crime para repreender criminosos, o caos está ai, e do nosso modo tentamos abafá-lo. A inteligência é o único caminho que não nos levará para um precipício. Usemos a cabeça, mas enquanto não aprendemos a usá-la o jeito é apelar para os "músculos".

    Muito bom texto. Continuemos assim! =]

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  4. tava fazendo um ex sobre misericórdia na facul..
    ai tava vendo la ne..
    acho que é a maior virtude, de nao querer vingança
    pq é tbem a mais difícil ..

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  5. O "mal" acompanha a humanidade há milênios, faz parte da condição humana, infelizmente. Se o termo "banalidade do mal" surge com Hannah Arendt, essa banalidade é bem mais antiga. O que não quer dizer que devemos aceitá-la.

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