02 abril 2009

Propriedade ?

Dia atrás, necessitava fazer cópia de um determinado livro. Dirigi-me a uma fotocopiadora, não poderiam copiar para mim em respeito às leis de direito autoral. No entanto, fui informada que em outra unidade da mesma empresa a cópia poderia ser feita sem problemas.
De acordo com a legislação vigente, eu poderia sofrer punições se comprasse a cópia do livro, essa empresa também, juntamente com milhares de outras pessoas (provavelmente inclusive você leitor) que diariamente disponibilizam, compartilham e baixam músicas, vídeos, filmes, copiam livros e inúmeros conteúdos “protegidos” por direitos autorais e leis de propriedade.
Somos mesmo todos criminosos? Pela lei, sim. Mas, e se olhássemos por outro ponto de vista? Quando tais leis foram criadas a realidade era bem diferente da atual, os meios para a produção e difusão de idéias eram outros, mais caros, mais demorados, menos acessíveis. No entanto, hoje esses mesmos conteúdos se encontram a um clique, praticamente sem custos para quem possui um computador conectado à internet. Ainda faz sentido esse tipo de lei? Uma lei adequada a outros tempos e que ignora toda as mudanças dos últimos anos? Deve-se respeito à lei apenas por ela existir ou deve-se observar o contexto e ver se sua aplicabilidade é possível? Enfim qual é a validade de uma lei, pode-se dizer, simplesmente “caduca”?
Apesar das indagações, circula um discurso de combate à “pirataria”. Discurso sustentado, claro, com a ajuda de grandes corporações que obtém altos lucros e temem desmoronar se a lei for modificada e flexibilizada (Vejam o caso do fim da comunidade discografias no Orkut, em link abaixo). Muitos acabam por adotar tal discurso. Mas qual o benefício para nós, pessoas comuns que não detemos nenhum direito autoral que nos renda milhões? Talvez a esperança de um belo dia nossas produções valerem o mesmo. Será? Vejo mais vantagem em flexibilizar um pouco os direitos e permitir que um maior número de pessoas tomem conhecimento do que você faz, principalmente com a ajuda da internet.
Todo o exposto acaba levando a outra discussão mais ampla: a forma como tratamos as idéias, informações e conhecimento. Podem eles ser tratados como propriedade? Principalmente agora, com todos os meios de produção e reprodução facilmente ao alcance? Pensar nisso parece estranho, uma afronta aos valores de propriedade incrustados há séculos. No entanto é necessário, mesmo que incomode a alguns.
Diante desse quadro vai surgindo, aos poucos, maneiras diferentes de pensar e agir. Não utopias inatingíveis, mas soluções viáveis. Para exemplificar, qual é hoje a maior enciclopédia do mundo? Com atualizações diárias e versões em vários idiomas? A Wikipédia, feita por milhares de voluntários, não é de ninguém ao mesmo tempo que é de todos, e qualquer um pode contribuir para modificá-la e melhorá-la. O mesmo se aplica aos softwares livres, tão bons e úteis quanto qualquer versão comercial. Em alguns países já surgiram partidos piratas, com a proposta de modificar a legislação caso tenham representantes eleitos.
Reflita sobre o assunto, porque querendo ou não, tem a ver com você que já deve ter baixado uma música, copiado um livro, feito pesquisas na Wikipédia...
Links úteis, complementares e interessantes sobre o assunto tratado:
http://comunidade.cdtc.org.br/ (cursos online gratuitos sobre softwares livres)
http://www.creativecommons.org.br/ (licencie suas obras pela Creative Commons)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Pirata (página da Wikipédia sobre o movimento dos partidos piratas)
http://www.partido-pirata.org/ (página de discussão sobre um possível partido pirata no Brasil)
http://www.overmundo.com.br/estaticas/sobre_o_overmundo.php (Overmundo - cultura compartilhada)
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=73270209&tid=5313451162040608029 (sobre o fim da comunidade discografias no Orkut, que disponibilizava links para downloads de músicas)

10 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Com certeza em breve as mudanças chegarão. O que as gravadoras estão fazendo é um esforço inútil no desespero.
    Uma matéria sobre o mesmo assunto saiu na Galileu recentemente. Para ter idéia, a forma que a banda Metallica e sua gravadora mais arrecadaram dinheiro no último ano foi pelo jogo Guitar Hero III.
    Cada vez mais as gravadoras irão recorrer à metódos diferenciados, porque ultimamente da mesma forma que a internet contribui para o usuário baixar, contribui para um artista pouco conhecido divulgar seu trabalho, como é o caso dos comediantes do 'O improvável', cuja divulgação é principalmente via internet (youtube). Ou seja, cada vez mais a idéia de gravadora é enfraquecida.
    E para quem não sabe, a Google é dona dos sites que possuem maior distribuição de links para download, tanto no próprio BlogSpot, como no Orkut e no seu buscador.
    Infelizmente, frequentemente alguns bons sites brasileiros são fechados, como o LegendaZ que passou por problemas e a comunidade de Discografias no orkut, mas que com certeza são Hidras de Lerna.
    Bom assuntom ótimo texto :)
    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Sem dúvida com a internet as leis precisam ser repensadas, a realidade é outra, na carta capital dessa semana saiu uma matéria sobre o assunto(c capital, 25 março 2009 pg 52) falando sobre os blogues musicais e as comunidades de discografias do orkut, é um assunto bem em voga,
    um site que recomendo com musicas mais alternativas e bem legal é o www.deezer.com é uma especie de mp3tube melhorado, quer dizer beeeeeeem melhorado, muito bom , vale a pena conferir!

    ResponderExcluir
  4. Obrigada!
    Valeu pelos exemplos aí pessoal! Enriquece mais a discussão!
    Não há como parar as mudanças, retroceder, como querem essas corporações, à modelos de anos atrás.

    ResponderExcluir
  5. Mas assim como tudo no Brasil é atrasado! Diversas leis todos os dias causam discussão por não "servirem" para nossa época. É fato que as coisas mudam e com elas os princípios (as leis) devem mudar também. Algo que há muito era errado hoje pode ser repensado, afinal a evolução serve para isso. Será que pensam que viveremos sempre da mesma forma? Seguindo um único pensamento, sem evoluir? Acho que isto é falta de vontade (com certeza é) de quem recebe para fazer algo e de fato não o faz. E mais uma vez são nosso políticos não cumprindo seu devido papel. Ótimo texto!

    ResponderExcluir
  6. Certamente e uma questão muito polemica; pois pelo fato dos autores compositores, dos musicos e diversos trabalhadores de areas afins serem amparados pela lei que protege os seus direitos autorais (suas publicações, seus trabalhos, e o que sustenta esse individo e a sua profissão) ainda assim muitas pessoas utilizam ou ja utilizaram da tecnologia ou de outros meios para adquerirem esse material(livro, musicas, filmes) com um menor custo ou seja como cita no texto acima: Somos mesmo todos criminosos? "Pela lei, sim". inclusive baixar videos, musicas, livros... e considerado crime e a pessoa que for pega baixando esse tipo de material ira ser julgada e podera ser condenada a até dois anos ou pagar uma multa que varia de acordo com a infração(por ex: se estou vendendo ou distribuindo esse produto a pena logicamente para esse crime sera maior) mais ainda tem aqueles que defendem a pratica de copiar ou adquerir esses produtos, estes afirmam que devido o preço ser alto e as condições economicas de varias pessoas serem baixas estas não tem como adquerir tais produtos,dai fica a questão:
    "Baixar musicas videos filmes e ilegal sim mas se eu posso ter estes conteudos sem gastar nada por que escolheria gastar?"

    ResponderExcluir
  7. Há casos e casos que devem ser estudados, mas Direito autoral é direito autoral e deve ser respeitado!

    1 - Cópia de livro? Sim, eu faço. Sou um "criminoso" por isso. Sou a favor de cópia de livros por inteiro apenas para os que não se encontram mais no mercado, esses sim podem e devem ser copiados.

    2 - Baixas filmes via internet? Filmes sou completamente contra a pirataria. Baixar um video da internet é crime e pronto. Mas tenho uma ressalva: eu baixo episódios de animes legendados. Não existe no Brasil, isso seria crime? Ao meu ver não. Acho que a lei nem cita esse tipo de caso.

    3 - Sobre músicas, apesar de eu detestar música, sou a favor dos downloads. E isso porque existe uma coisa na lei que ao meu ver ampara isso. Diz a lei que pirataria é VENDER uma cópia não autorizada, no entanto se eu quiser fazer uma cópia de um cd para dar de presente a alguém não é pirataria. Na internet não estão vendendo as músicas, podemos baixar gratuitamente, isso seria pirataria?

    Enfim, a lei deve apenas ser adequada, deve apenas ter bom senso. Mas sair pirateando tudo não pode. Num governo socialista ou outro nao-capitalista em que o dinheiro não fosse tudo a minha opinião seria diferente, diria que não haveria sentido para existir essa lei "anti-reprodução".

    ResponderExcluir
  8. Na situação atual, acredito que seria muito difícil encontrar alguém que se enquadre totalmente nessa lei, alguém que a siga completamente. Não é liberalizar irrestritamente, mas enchergar que a realidade é outra, e ver que há necessidade de mudanças!

    ResponderExcluir
  9. "Diz a lei que pirataria é VENDER uma cópia não autorizada, no entanto se eu quiser fazer uma cópia de um cd para dar de presente a alguém não é pirataria. Na internet não estão vendendo as músicas, podemos baixar gratuitamente, isso seria pirataria?"
    Muuuito bom x)
    daria um bom advogado o/

    ResponderExcluir
  10. Parabéns Gabriela e galera que tem colaborado para a formação de opinião, estamos no e-blogue, x)vamos estender nossas opiniões longe
    vai ai o link
    http://e-blogue.com/blogs/blog/2009/04/06/propriedade-intelectual-na-internet/

    ResponderExcluir