10 setembro 2009

Boneco do espetaculo "Os Orixás" do teatro Giramundo

Há um tempo já (nem tanto), quando era criança, íamos, eu e antigos amigos, fazer trabalhos escolares na biblioteca municipal da pequena cidade onde morava. Havia um livro lá, diferente, grande, pesado, Ewé o livros das plantas era o nome. O trabalho parava, ficava para depois, feito às pressas. Era um livro, na nossa concepção, de magia. Sim, bilíngue, em português e em alguma desconhecida língua africana, com belos desenhos botânicos (talvez venha daí minha admiração por desenhos botânicos). Como ele foi parar lá? Nem imagino. Ensinava "trabalhos" (no sentido de magias, feitiços, não sei se posso chamar assim) feitos com plantas. Algumas bibliotecárias atemorizadas o escondiam, mas no fim a gente sempre dava um jeito de encontrá-lo novamente. Outras acabavam lendo-o junto conosco. Era incrível e divertido. Muito mais do que os livros de educação sexual direcionados para o público infantil disponíveis lá também. Seria mesmo possível mandar sonhos ou pesadêlos para alguém, ficar invisível, fazer chover? Nunca testamos, até porque muitas plantas citadas não eram fáceis de se encontrar. Mas, para crianças mandadas às aulas de catecismo pelos pais, aquele livro abria uma porta para o novo, desconhecido, uma outra forma de pensar a vida, o mundo e a realidade.

Dia desses, perdida pela internet, cheguei até o blog Candomblé onde esse livro é uma sugestão de leitura. Então descobri ao que se relacionava. E pude ter uma idéia, conhecer melhor, ao menos teoricamente, essa religião. Nunca fui a um terreiro. Quem sabe um dia, se tiver a oportunidade, para ver e sentir de perto. A quem lê fica a sugestão, de também visitar o blog, procurar saber. Não se conformar com opiniões, muitas vezes, pautadas pela ignorância e preconceito.

Porque o primeiro passo para oprimir e escravizar um povo é rebaixar a cultura desse povo, desvalorizar seu pensamento, desautorizar suas interpretações da realidade, considerá-los menor ou pior. Dizer que as religiões de origem africana são "macumba", "coisa do diabo" é ainda eco de um passado triste de escravidão que necessitava desse rebaixamento para se sustentar. Mas essa cultura sobreviveu, influenciou e foi influenciada (o que seria de Picasso sem as máscaras africanas?), está viva até hoje, sendo também cultura brasileira, cultura de todos os outros países que igualmente receberam africanos. Uma religião milenar, como o candomblé, com uma "mitologia" comparável à grega (por que não?), com orixás femininos fortes e que outros orixás não ousariam enfrentar, que não abusa de noções de culpa e pecado, merece respeito, merece muito respeito!

Que tenhamos coragem de não matar na gente a criança que faz, sim, seus julgamentos (é impossível não fazer), porém ainda não de forma taxativa, que ainda não aprendeu a intolerância, que se sente fascinada pela diferença, porque sabe que tem muito a aprender com ela, e não amedrontada. À Africa agradeço pelas encantadoras tardes propiciadas por aquele livro!

5 comentários:

  1. que texto legal, é o respeito está acima de todas as coisas nessa vida, não se julgar melhor nem pior , é isso mesmo..
    engraçado achar uma coisa que julgávamos perdida ne, tipo um filme que vc viu a muito tempo e nao lembrava o nome ou qualquer coisa do tipo... a deixa perguntar uma coisa, cade o gabriel ?? ele faz falta aqui no blogue =z

    ResponderExcluir
  2. ahh, não sei do gabriel não.

    pois ée, pessoal ta meio sumido mesmo!
    =/

    ResponderExcluir
  3. Já estive em um terreiro, e em partes é uma experiência legal. Mas foi só pra matar a curiosidade, viver o desconhecido. Admito que tinha medo antes de lá estar que encontraria galinhas mortas, sangue, sacrifícios...hehehehe
    Legal o texto!

    ResponderExcluir
  4. eu tenho é medo da política armamentista do Lula!! kkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir