03 setembro 2009

Despidos de Razão

Uma multidão reunida, em cada rosto uma expressão diferente embora compartilhem o mesmo sentimento de apreensão. Essa não é uma multidão comum, nem sei se pode ser chamada de massa, pois é bem heterogênea, mas ao mesmo tempo é também uniforme, sobretudo quando a seleção faz um gol... Gol do Brasil! Alegria geral, braços levantados, beijos e abraços, orgulho nacional.

Essa é a história de um país que se entende como nação no futebol e no carnaval. Nossas batalhas são travadas em estádios, nossos heróis ganham medalhas a serviço do governo federal, derramando suor ao invés de sangue. Talvez por isso sejamos conhecidos como povo pacífico, mas povo pacífico não existe, o que existe são povos que ocultam as verdadeiras lutas da sua terra.

Esse país é um lugar dos sonhos, com samba praia e muito sol, é onde as crianças não choram, e as mulheres esperam com a comida na mesa para seus maridos, que no final de semana se reúnem em torno de um objetivo comum: a chamada paixão nacional.

Em 2014 a copa do mundo será realizada aqui no Brasil, nada mais justo, tendo em consideração a nossa imensa contribuição para o futebol internacional e é claro nossa receptividade sem igual.

Mas o que fica para nós depois dos jogos? Até que ponto nossa paixão exagerada é benéfica? Faz sentido gastar de forma desmedida em uma atração, enquanto não temos nem hospitais? Pelo que sei, os estádios não assumiram ainda a função de escolas ou universidades, e é disso que estamos precisando.

O uniforme verde e amarelo, que apertamos contra o peito, esse choro e essa felicidade, toda está fidelidade aos jogos, isso não representa o amor a este país. Pois amor é bem diferente de tudo que vemos por ai, ser brasileiro é amar esse povo, lembrar que somos irmãos, pensar que perdemos a todo o momento, não quando a seleção deixa de ganhar, mas quando reproduzimos uma verdade que á 500 anos não quer mudar, uma verdade de dor e exclusão.

É toda á droga disfarçada de nacionalismo, é o pão e o circo mais uma vez, é uma copa disfarçada de vitória e jogadores disfarçados de heróis. Escrevemos uma historia falsa para esconder nosso atraso e nosso medo, uma historia de paz e união, uma história na melhor das hipóteses machista, afinal de contas esse é um país só de homens campeões, nossas mulheres só aparecem dançando peladas no carnaval. É o que oferecemos para o mundo..

Esse é o país da pelada e das peladas, totalmente nú, despido de razão.

4 comentários:

  1. Só pra constar.. eu gosto de futebol, gosto de acompanhar o Vila e o Avai, não estou desmerecendo aqui a atividade enquanto esporte mas sim enquanto método de alienação das massas, que é tão usado como tapa olhos nesse país, e que ajudou a tutelar atrocidades como uma ditadura militar porexemplo.

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  2. Eu acho futebol tão sem graça!!

    A copa do mundo será apenas um espetáculo para o mundo, uma exibição. Porque acredito q de fato, bem poucos tirarão proveito real dela. O brasileiro comum talvez nem consiga assistir a um jogo (já que os ingressos não serão a preço populares), verá pela TV mesmo. E que diferença faz se é aqui ou por exemplo na europa visto através da TV?(Por falar em TV, é grande a responsabilidade desse meio de comunicação na espetacularização não só do futebol, mas de outros esportes tb)

    Gostaria de ver o empenho, a energia, tempo, disposição, paixão dedicados ao futebol utilizados em outros aspectos, como por exemplo política e educação!!!
    É impressionante!!
    =/

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  3. O futebol como esporte me agrada, mas me enche de nojo o "futebol negócio". Multidões alienadas, que deixam tudo de lado pelo futebol. Como colocou bem o Ricardo, os heróis que derramam apenas suor. É um horror, é nosso povinho! ;]

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  4. Pelo jeito, não mudamos muito da Roma Antinga, pela políca do ´pão e circo'. Mas, será que ésó isso que temos que oferecer ao mundo mesmo? Generalizar não dá.
    De ponta a ponta: temos o caboclo nordestino e o gaúcha encimesmado. O Brasil é grande, é mil, por mais que a veiculação de massa só mostre as gostosas peladas. Nós podemos optar por escolher outro Brasil que não este do carnaval, por mais que a mídia de massa não faça a mesma escolha.

    Lidar com massa é difícil. A massa do pão que vai para o circo, da política do Pão e Circo.

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