24 outubro 2009

Pintura de Magritte - Isso não é uma maçã


Imagine-se no século XVII, vivendo em qualquer região do Brasil, então uma colônia. Seu conhecimento visual se restringe ao mundo imediato, ao que você encherga todos os dias diretamente, poucas são as imagens. Você não consegue nem imaginar como seja a Monalisa, talvez nem saiba da existência desse quadro, não é fácil reproduzir e circular imagens. Se quisesse vê-lo teria que deslocar-se quilômetros e quilômetros até a Europa. Mas como é a Europa? Contam-lhe histórias, porém o máximo que você pode já ter visto é um desenho precário, um mapa, com muita sorte uma pintura.
Hoje, basta digitar Monalisa no Google, mas você provavelmente já a conhece, já a viu em algum momento, se quiser pode ter uma reprodução dela em sua parede. Pode ligar a televisão e assistir os últimos acontecimentos europeus. Pode assistir um documentário sobre algum país africano. Se eu disser Paris, uma imagem forma-se na sua cabeça, mesmo nunca tendo estado lá, uma imagem, quem sabe, nítida e fotográfica. Muito óbvio tudo isso, no entanto impossível tempos atrás.
Quantas vezes já não ouvi: "Ahh!! Esse filme mostra a realidade!" ou diante de uma notícia de jornal na tv: "Essa é a realidade!". Mesmo? Será que as imagens mostram a realidade? Discussão antiga, desde os antigos gregos e mais do que nunca necessária. Afinal grande parte do que chamamos realidade nos chega por inúmeras imagens, através delas conseguimos ter uma idéia geral do mundo, fato inexistente em outras épocas. Até mesmo na política, quem de fato já viu o Lula e conversou com ele? O que temos são imagens. Ou seja, elas estão entre nós e a realidade, mediando essa relação.
Como o quadro de Magritte no ínicio, "Isto não é uma maçã". Não é uma maçã, é tinta sobre uma superfície. Mas também é uma maçã, pois remete a idéia de maçã. Imagens são ambíguas, são e não são o objeto representado. As pessoas na tv não são pessoas de fato, porém são abstrações de formas e cores que remetem às pessoas reais.
Assim, imagens são fonte de conhecimento, como poderia imaginar Paris ou o Lula sem elas. Contudo não dá para esquecer que por trás de cada pincel ou câmera há pessoas com opiniões diversas. O recorte de uma câmera é seletivo, pensar sobre o que é ou não é mostrado faz toda diferença. A realidade de uma imagem é, no máximo, a realidade de quem a produziu ou então a realidade que lhe convem mostrar.

3 comentários:

  1. nossa, conceito de verdade ´´e complicado, no audiovisual existe uma briga entre os teoricos, há aqueles que acreditam no documentário como uma forma de verdade como elemento documental da realidade e os que acreditam tudo ser ficção, eu acredito na ficção, tudo é ficção pq a historia só é real quando acontece, naquele exato momento qualquer forma de contá la pós acontecimento já é uma narração
    sem falar que as cameras sao olhos que so filmam o que o camera enxergar, quem sabe o que esta fora do enquadramento ?

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  2. Muito bom, desse jeito que há tanta manipulação nesse mundo. Uma boa parte da população acha que o que se passa por trás das "telinhas" é verdade absoluta, sem questionamento ou dúvidas. Interessante o tema, verdade o que tu disse.

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