04 abril 2010

O libertário!

Esses dias na porta da faculdade uma amiga disse que achava complicado as pessoas terem facilidade para falarem de diversos assuntos, mas não de Jesus cristo, nem digo religião, digo Jesus Cristo. Estava pensando sobre isso e queria pedir que lessem meu texto, tentando deixar de lado um pouco da resistência ao assunto.

Falar de Jesus em um blog de opinião, em uma revista ou na universidade parece coisa de fundamentalista religioso, parece que não é assunto para a ocasião, apesar é claro, da maioria das pessoas acreditarem e até freqüentarem algum tipo de comunidade religiosa.

Nesse tempo de páscoa, eu que acredito demais em Jesus e não nego, (e nem por isso deixo que minha crença sobreponha a razão) formulei algumas questões do ponto de vista da sua historia e da apropriação dela pela sociedade. Cheguei a algumas primeiras hipóteses, percebi que os estudos que se propõem a estudar a vida de Cristo ligam-se a questões de fé e teologia, sendo difícil encontrar alguma proposta que discuta os acontecimentos em si, e foi isso ponto de interrogação mais interessante para tentar compreender a questão.

A igreja construiu ao redor da vida de Jesus dogmas imbatíveis e inquestionáveis e sendo assim a ciência parece ter se afastado das pesquisas desse acontecimento durante toda a idade média. Depois ao passo que o catolicismo foi perdendo a força, a ideia era se afastar de tudo aquilo que se ligasse a fé nas pesquisas, para que o empirismo do pesquisador não fosse prejudicado.

Assim uma parte importante da constituição do ocidente, em todos os seus sentidos, foi ligada muito mais a ideia de mito fundador do que de uma ruptura na estrutura de poder, através de uma nova filosofia de ver o mundo. Quando falamos em estudar a historia da ascensão do cristianismo falamos em estudar teologia, é interessante falar em teo porque remete a Deus e isso implica muitas coisas, implica inclusive uma carga imensa de misticismo, porem o cristianismo é muito mais um acontecimento histórico de proporções imensas do que simplesmente um estudo de Deuses e mandamentos divinos.

É claro que tenho muito pouca autoridade para falar no assunto, mas penso que não devo ficar calado porque minha opinião é tão valida quanto a de um padre ou de um juiz. Digo isso porque esse texto em específico põe uma questão que a sociedade em geral se nega a pensar, não por ela mesma não querer refletir, mas por existir toda uma estrutura de poder político-religiosa, elencando quem pode ou não ditar as regras na mudança de dogmas nesse segmento social tão presente em todo o estado, que é o religioso.

Deixemos de lado os dogmas do catolicismo ( não falo de outras religiões porque não conheço ) e vamos estudar a vida de Cristo como historia, como revolucionário que esse homem foi, como se estuda Ché ou Zapata nas escolas, é urgente ter uma concepção diferenciada da vida de Cristo, é urgente que outras interpretações sejam feitas como ciência, para entender por exemplo se houve a proposição de um outro sistema econômico, ou de uma afronta ao império romano nessa época. E não basta repetir a bíblia, fatos precisam ser reencontrados e repensados, não sendo uma nova abordagem sobre a ascensão do catolicismo, isso já se tem aos montes, é preciso se possível separar as coisas, e fazer uma busca pelos 33 anos que mais modificaram a forma de pensar no ocidente.

Só para dar um exemplo de como tudo deve ser revisto, uma parte interessante do evangelho me fez ficar sem dormir esses dias, comecei a refletir se Jesus chegou a pregar a igualdade entre homens e mulheres, se isso for comprovado toda uma estrutura religiosa estaria comprometida, já que a superioridade masculina é referendada pela igreja como sendo natural, entretanto fazendo uma leitura superficial (diga-se de passagem) percebi que, em vários momentos Cristo clama pela igualdade entre homem e mulher, e até mais que isso eu diria ele prega a não repressão feminina.

Já devem estar me chamando de louco eu sei, mas chamo atenção para um trecho famoso do texto bíblico “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra” analisemos essa frase : Em primeiro lugar a 2010 anos atrás Cristo defende uma adultera e entende seu ato como natural ao ser humano, sendo que ate pouco tempo no Brasil, o marido tinha direito de se separar se soubesse que tinha sido traído e outras coisas mais para não falar no voto feminino por exemplo. Em segundo lugar e mais importante, ponto chave da questão, quando se diz “Quem nunca pecou” necessariamente entende-se a mulher como parte da sociedade, isso pode parecer lógico hoje, mas naquele tempo não era, quando uma generalização de direitos era feita ( direito de atirar a pedra caso nunca tenha pecado) era generalizada só para homens, esse teor de igualdade é moderno e muito recente, não sendo natural á época, que tinha outra concepção do que era ser um cidadão, e com certeza ser mulher não fazia.

Outra questão chave nessa teoria, é a de que Jesus sempre deu demasiada importância para sua mãe, reconhecendo seu trabalho e sua importância, isso pode parecer comum atualmente, mas o ideal de família e, sobretudo de amor em família e importância da mãe na educação do filho é algo relativamente recente. Mães eram apenas “parideiras”, ou seja, Jesus nessa minha abordagem é muito mais libertário do que a religião propõe, na verdade eu diria até que a religião atrapalha as pessoas em fazer uma investigação mais real e aprofundada da vida de Jesus. Essa investigação poderia abalar seriamente as bases de uma sociedade sustentada no patriarcado e na opressão reflexo de uma estrutura medieval que se assegurava em bases teológicas, é importante lembrar que o segundo maior império do mundo ( talvez até o primeiro) que é o Vaticano, tem pelo menos uma “embaixada” em cada cidade do Brasil, e varias outras no mundo, e o primeiro maior império, os EUA sustentaram seu ideal de liberdade para destruir muitas outras nações em nome de Deus. Isso que trago não é novidade mas não pode ser esquecido nunca, pois mata-se a todo momento em nome de quem disse que se baterem em sua face deves oferecer a outra, se estudarmos mais a fundo esse revolucionário veremos que as mulheres foram para ele muito mais do que meros pedaços de costela, como aprendemos desde pequenos.

4 comentários:

  1. Achei interessante a colocação que fez com o pensamento sobre a comparação de Jesus Cristo com Che ou Zapata. Seria muito mais interessante se olhássemos para ele como um homem histórico e estudássemos os fatos, de fato. Viver de mito não serve para mim e com certeza quem o faz de certa forma se aliena à pensamentos dos outros e não cria o seu próprio. Nunca havia pensado sobre tal comparação, mas admito que achei incrível - acho que nem durmo agora pensando -, não, sério, é quase uma 'revolução' nos meus pensamentos. Admito que não tenho uma formulação concreta sobre "O que penso sobre Jesus", agora tenho posso falar que não tenho opinião nenhuma sobre o "Jesus Religião", mas faria questão de opinar a partir do momento que estudarem o "Jesus História". Gostei.
    Abraços

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  2. Pronto arrumei \o/
    que bom Marco que c vai pensar sobre esse otro ponto de vista, os dogmas brecam o estudo, ufaa achei que tava viajando demais, que bom era esse o cerne mesmo da questão !

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  3. Querer estudar Jesus do ponto de vista científico e histórico é complicado mesmo. Primeiro porque teríamos que retirar todos os mitos e dogmas para isso, assim ele não seria o filho de deus, não poderia ter sido concebido sem ato sexual, não teria ressuscitado, feito milagres, e por aí vai. Ou seja, muita gente jamais aceitaria esse ponto de vista, o ponto de vista de que ele foi antes de tudo humano, porque aí sim se poderia começar a fazer ciência ou história. Segundo porque ele não deixou nada escrito por ele próprio, tudo o que se tem são opiniões e relatos de outras pessoas, os apóstolos que escreveram os evangelhos (ou talvez nem isso, pois muitos pesquisadores dizem que nem foram os próprios apóstolos que escreveram e sim pessoas das comunidades que seguiam cada um desses apóstolos após a morte deles, sendo que grande parte das histórias foram transmitidas oralmente até serem escritas), assim cada evangelho é a visão que essas pessoas tiveram de Jesus, com suas próprias interpretações e não uma verdade incontestável. Dessa forma, nada pode ser assegurado, e o "homem histórico" de Jesus se perde então, acho que nunca vamos saber se o que ele fez e disse é de fato o que é narrado, ou o que ele realmente pregou ou não. Mas deve ter tido, sim, muita importância, pois alguém que divide o tempo em antes e depois de si (pelo menos no ocidente), não é pouca coisa. Mas mais importante que o homem em si é o mito que se criou, porque esse sim impactou a história e sobrevive até hoje, e esse precisa ser, e é, estudado.
    Sobre dizer que Jesus foi um revolucionário e compará-lo com Ché e Zapata, também acho que é algo complicado. Porque esses homens viveram no século passado, tendo muitas informações confiáveis a respeito deles, e a proposta de mudança deles era social, econômica e política, ao passo que para Jesus essa transformação parecia ser muito mais espiritual (tanto que, segundo passagens do evangelho, ele diz para Pilatos que o reino dele não era desse mundo) em nenhum momento Jesus parece incitar algo como uma "revolução" (até porque esse conceito de revolução é recente), algo que fosse mudar mesmo as estruturas básicas e materiais da sociedade, em nenhum momento Jesus luta, ele se resigna e se entrega (pelo menos de acordo com o que sabemos). Assim, vejo que a mensagem dele é diferente, e não deixa de ter um grande valor (pelo menos para mim), talvez ele esteja mais próximo (guardada as devidas proporções históricas e de contexto) de Ghandi, Luther King, ou até mesmo Antônio Conselheiro, algo mais como uma desobediência cívil (não deixando de ser também libertário).
    Quanto a questão da igualdade, o que vejo como a mensagem central de Jesus, que é ame ao próximo como a ti mesmo, deveria estender a igualdade a todos (pelo menos na minha interpretação), seja igualdade de gênero, social, de etnias, pois todos são como nós mesmos, nós nos igualamos em nossa condição humana. Pensando na questão feminina, segundo os evangelhos, Jesus teve atitudes que destoavam das típicas da época, mas que não deixavam de ser, ao meu ver, um tanto paternalista (não querendo julgar, afinal ele se encontrava dentro de um momento histórico específico, acabaria agindo de acordo com ele), uma atitude que romperia totalmente seria haver mulheres entre os doze apóstolos, mulheres que construíssem seus ideais junto com ele, mas isso seria pedir demais. E com certeza, as religiões que se formaram se aproveitaram disso, relegando espaços inferiores às mulheres, e tentam até hoje impor um padrão que se encontra completamente defasado para o momento que vivemos.


    Muito bom assunto, rende muitas idéias e discussões!!!

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  4. É, acho que o Ricardo não quis de fato comparar Jesus à Che ou Zapata - pelo meu compreendimento, ao menos, me desculpem se estiver errado. O que quis eu entendi e o que me rendeu ideia foi o fato de Jesus poder ser estudado como um homem, assim como Che e Zapata. Jesus não se rebelou contra um governo ou a forma de vida, mas como tu mesmo disse, gabi, foi algo mais espiritual, transmitindo as coisas boas, comparável aos nomes que citou. Infelizmente tenho que concordar que dificilmente conseguiremos estudá-lo como o homem que foi ao invés da lenda, mito, seja lá como queiram se referenciar.

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