01 maio 2009

O inferno são os outros

(Foto de Spencer Tunick)

Diversidade. Apesar dessa palavra e idéia estar bastante difundida, ainda há muito que se conquistar. Diversidade de pessoas, de tons de pele, de idéias, de pensamentos, de religiões, de comportamentos, de idades, de sexualidade, de modos de se vestir, de modos de vida, de origens, de identidades, de costumes, de línguas, de verdades, de crenças, de valores.

Escrevo isso porque, mesmo com todos os avanços, vejo vigorar, muitas vezes veladamente ou abertamente, inúmeros preconceitos. Para exemplificar, algumas frases que já ouvi no dia a dia: “Eu não tenho preconceito, mas na minha cama só branquinhos”; “Posso até aceitar a pessoa, mas a homossexualidade nunca”; “Ah, fulano é um maconheirinho”; e por aí vai.

Reconheço que todos, inclusive eu, de alguma forma criam seus preconceitos, é até inevitável. Acabamos por ter essa necessidade de classificar, categorizar, pré-conceber o que ou quem não conhecemos direito. Porém, para contrabalançar tal tendência, é preciso estar aberto, ser flexível, entender que o que julgo ser verdade é valido para mim, no entanto os outros não têm obrigação nenhuma de seguir meus padrões.

Não é fácil, as diferenças incomodam. O confronto com os outros incomoda. Pois cada um tem sua liberdade. As atitudes alheias podem confrontar o que mais prezo, meus valores mais arraigados. O confronto com os outros me tira da posição central que erroneamente posso pensar ocupar no mundo. No confronto com os outros eu sou apenas mais um entre milhões, minhas idéias são apenas mais uma entre milhões. Talvez para muitas pessoas seja mais fácil se apegar aos preconceitos do que admitir essa realidade.

Contudo, por mais complicado que seja, é impossível fugir dos outros. Ao mesmo tempo em que pode incomodar, é nesse confronto que me construo. Nenhum ser humano se faz sozinho. Minha identidade é construída com base nos parecidos comigo e também nos diferentes. Para haver uma identidade negra é preciso haver outra identidade diferente, branca por exemplo. Para haver uma identidade feminina é preciso que exista a masculina. Paradoxal: o grupo ou pessoa alvo de preconceito é também necessário(a) a quem comete esse preconceito.

Enfim, para quem vive de cultivar preconceitos (utilizando uma frase de Sartre) o inferno são os outros.

6 comentários:

  1. é, essa questão de identidade é complicada, pq quando me faço alguma coisa estou abdicando de outra,gostei disso.
    esse é um assunto complicado, se pelo menos o preconceito racial no brasil ( nem posso chamar de racial pq isso nao existe com humanos) fosse menor teriamos uma nação mais coesa e necessariamente mais evoluída, mas o povo insiste em se fechar contra nós mesmos
    gosteii x)

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  2. Essa frase do Sartre é perfeita. E o texto ficou ótimo, parabéns!

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  3. Preconceito é muito relativo. Vivemos em sociedade e temos que conviver com aqueles que no vivem conosco, independente de etnia, cultura, sexo, ideal. Mas conviver não é aceitar, é "relevar". Afinal o preconceito vem de todos os lados, do branco, do negro, do hetero, do homo, do rico, do pobre. Não podemos generalizar nenhuma "categoria" por algo que uma minoria faz. Primeiramente devemos nos respeitar, nos gostar, para depois exigir que o próximo faça o mesmo. Muitos de nós impomos o preconceito, esperando que o próximo o faça. Uso como exemplo as cotas nas universidades. quer preconceito maior que este? Preconceito contra aqueles que não tem esse direito, e também um "auto-preconceito" com quem tem direito a esse regalia. Fica para pensar, para refletir e quem sabe para agir (isso eu duvido). O texto muito bom, é um assunto sem fim, assim como tantos outros, com essas divergências evoluímos, e quem sabe assim mudamos. Parabéns, continuemos com assuntos instigantes.

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  4. o inferno nao existe!

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  5. "o inferno nao existe!" ehh a gente que cria
    ihaiushaiushaihsiuasa
    tudo uma questão de acreditar..

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  6. Eu penso nesse assunto com muito ceticismo na humanidade, mesmo que eu tenho em mim uma grande receptividade com a diversidade, acredito que o mundo não caminha para um estado de consciência geral, porém o contrário, o que acontece é um ajustamento das leis para que a diversidade seja respeitada perante a lei, mas não no cotidiano. Só de pensar nos dogmas das religiões, eu já desisto de acreditar que haverá um dia uma livre, leve e solta diversidade no mundo.
    Afinal, eu gostei muito do texto, acho bom sempre lembrar desses assuntos, me lembra de pensar melhor no próximo e na minha própria integridade. Continuem com o bom trabalho.

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