14 maio 2009

Os 121!


Ontem dia 13 de maio, dia da assinatura da lei que aboliu para sempre a escravidão (oficial diga se de passagem) no Brasil.


13 de maio de 1888, hoje 14 de maio de 2009 fazem 121 anos e um dia que o Brasil ia se soltando das amarras de um tempo ultrapassado, de poucas fabricas, poucos consumidores, tempo em que as diferenças entre seu próprio povo eram ainda legitimadas pelo estado, enquanto outras nações eram de fato nações e tinham orgulho de sua constituição, nós tentávamos esconder nosso passado financiando a vinda da Europa de quem quisesse vir difundir sua cultura, para que a nossa fosse então sucumbida pelos ideais do outro lado do oceano.


Cento e vinte um anos, tempo aproximadamente  de três gerações, ou seja, seu bisavô ( sempre me referirei ao termo masculino pois se já era difícil a inclusão masculina na época, a feminina era quase impossível) nasceu próximo ou viveu na época da abolição.


Agora vejamos, o avô do meu pai veio ao Brasil tentar sobreviver, fugindo das dificuldades em sua terra natal, e por mais que houvesse dificuldades aqui, ele era um homem branco e assim sendo conseguiu deixar a duras penas um legado de educação para seus filhos, e as gerações seguintes se estabeleceram então com maior facilidade. Os bisavôs negros foram substituídos por esses homens brancos que nem se quer eram brasileiros, quando chegou à hora de pagar salários e só então reconhecer os serviços prestados por décadas, à aristocracia preferiu marginalizar quem era nascido aqui e trazer de fora a força de trabalho.


Menos de um século e meio, é impossível que um povo se recomponha em tão pouco tempo, sem que esforço algum  fosse feito para modificar essa situação. Digam o que quiserem, o que eu vejo é que o estado tem sim uma grande divida a ser paga e não é ao FMI ou ao Banco Mundial, é ao negro Brasileiro.


Hora, se herança é passada de pai para filho, divida também, não podemos decretar essa moratória, não seria injusto para ninguém, injustiça é o que ocorre de uns poucos sendo tão beneficiados á tanto tempo, afinal há verdadeiras múmias e dinastias nas cupulas do poder, quem nunca ouviu falar da família Caiado, por exemplo? O povo que está longe da política institucional pede uma pequena parte do bolo que  no entanto é sempre negada ou cocedida como se fosse esmola.

Por isso sou a favor sim das cotas em universidades públicas, e não agüento mais aquele discurso clichê, que só demonstra a pouca retórica de quem esta argumentando “ Há então você apóia as cotas porque acha que o negro é mais burro?” em primeiro lugar eu não acho nada, porque achar é coisa pra quem não tem o mínimo de certeza em suas opiniões e em segundo lugar detesto que coloquem palavras na minha boca, quando falamos de cotas não estamos falando de capacidade intelectual, e quem vai por esse caminho me assusta! As cotas  são nada mais, nada menos, do que uma forma de tentar reduzir a disparidade social em que o Brasil se encontra, e de pagar essa divida histórica pela crueldade que é privar alguem do seu direito de liberdade. Já era passada a hora do estado começar com esse tipo de ação que visa a inclusão, que visa a igualdade entre as classes(ai falo das cotas em geral) basta ver a sala de um curso de medicina para se ter noção dessa situação, de quantos ali provem de uma família pobre, de quantos estudaram em escola pública.


Talvez nesse texto marcadamente opinativo em que não me preocupei em apresentar muitos dados, já que dados temos por todos os lados e opinião ainda é algo meio escasso nos meios de comunicação, eu tenha repetido muito a palavra negro, e digo que não é por mera pouca experiência que tenho em redigir textos, e sim por opção própria que utilizei a repetição. Os sinônimos que academia “inventa” como Afro-Brasileiros, por exemplo, não me agradam muito, estava tentando me lembrar quantas vezes alguém ao se referir a minha nacionalidade, ou grupo cultural, disse algo diferente de goiano ou brasileiro, e vi que isso nunca aconteceu, nunca colocaram um prefixo antes da palavra  brasileiro para se referir a mim, cheguei a uma conclusão.. brancos nascidos no Brasil são brasileiros por excelência, segundo esse tipo de definição, enquanto negros nascidos no Brasil, por mais que seus antepassados já estejam aqui a 400 anos ainda carregam o prefixo Afro .


Sem falar que Afro em si é muito vago, Afro remete a África que é o segundo maior continente do mundo, o termo não carrega uma identificação cultural, apenas uma identificação territorial que é muito vaga, os livros de historia ao se referir aos imigrantes Europeus diferenciam os povos de acordo com seu local de origem e sua cultura, enquanto que, ao se referir a diáspora forçada dos  africanos  para as Américas, pouco se importam em mencionar de que local do continente vieram a maioria desses africanos. Não me surpreende que seja corrente o erro entre as crianças de se referir a África como sendo um único País, devido a forma homogênea em que os diferentes locais  desse continente são  tratados nas escolas.


Quando deixamos de combater uma injustiça, quando fechamos os olhos para os acontecimentos, quando não resgatamos nossa historia, vamos nos tornando um povo sem cultura, ate que ponto sermos taxados de povo pacífico é algo positivo? Pacífico não pode querer dizer sem luta, sem consciência, precisamos de uma memória melhor e quem sabe daqui um tempo o dia da abolição ou da consciência negra seja feriado nacional, para lembrar a luta de nosso povo e não apenas dias religiosos e independências forjadas.


8 comentários:

  1. Primeiramente quero te cumprimentar, pois gostei muito do tema e da forma a qual o texto foi redigido.
    Pois bem, chego agora às minhas críticas e DIVERGÊNCIAS (que palavrinha que nos acompanha...hahaha). Ao contrário do que tu expôs, sou COMPLETAMENTE CONTRA as cotas raciais, entendo que o povo negro sofreu muito preconceito e foi "trocado" por loiros de olhos azuis (hehe) em toda a história do país, e diria até do mundo. Mas aqui vêm minha opinião contrária, acredito que um povo que quer espaço e conquistas, sejam elas ideais ou territoriais deve lutar, buscar aquilo que quer e não se acomodar e se deixar dominar. Quanto às cotas, tu não acha injusto com os brancos que também não têm condição? Acho humilhante as cotas que são dadas a pessoas negras, cada um deve chegar naquilo que quer por merecimento e não por caridade. Um país que quer se desenvolver deve tratar todos de forma linear, não pode dar privilégios a ninguém e com certeza o modo de acertar os erros de privilégios dados aos brancos, não é privilegiando agora somente os negros. Isso é algo que deve ser pensado, inclusão é algo bom quando feito da maneira certa, não adianta tirar dos ricos para dar aos pobres, isso é algo que não funciona, pois muitos dos ricos batalharam muito para chegar onde estão. A raça negra não deve ser vista com pena, todos somos iguais, temos capacidade de chegar onde queremos e não é a cor que vai invalidar uma criatura tornando-a dependente de caridade. Se tanto falam que somos todos iguais, que tomem providências, para que de fato sejamos. "Auto-preconceito" é algo que me decepciona, mas é real, todos somos vítimas de um sistema errôneo, não apenas os negros e índios, como muitos defendem.

    Novamente quero dizer que o texto está bom, um ótimo assunto para se debater e que gera muita polêmica, assim como os outros temas que aqui tratamos.

    Ricardo, tu pediu que verificasse os erros, encontrei apenas alguns erros de acentuação. Não quis editar para não me "intrometer", mas fica o aviso, se quiser me avisa que corrijo-os, ou então te passo o que achei de errado, mas se tu der uma lida vai achar, ou melhor vai sentir falta de alguns acentos. hehe

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  2. Também vou apresentar minhas divergências, e me coloco a favor, sim, das cotas.
    Sugiro que quem tiver a oportunidade visite uma senzala, de preferencia em um local onde a história esteja bem preservada, é muito indignante. Muitos animais, hoje, têm mais dignidade que os escravos tinham.
    Há uma dívida imensa do Estado brasileiro para com os negros, pois era esse mesmo Estado que legitimava a escravidão.
    Utilizar argumentos como "merecimento", "mérito", "esforço" para se opor às cotas é cair numa ideologia liberal, que é base da sociedade e do Estado burguês (que é o que vivemos, principalmente em tempos de neo-liberalismo), mas que pode esconder e ignorar situações perversas. Somos iguais sim, mas as oportunidades e o contexto social (criado historicamente) que cada um vive é muito diferente. É tanto mérito assim alguém que sempre teve a família pagando as melhores escolas, sempre teve acesso aos meios para estudar e se desenvolver passar em uma universidade federal? É falta de esforço alguém que desde criança teve que lutar nas piores condições para sobreviver, enfrentar preconceitos, tendo acesso à uma escola pública muitas vezes mediocre (essa é a palavra)?
    Não estou aqui defendendo que somos totalmente determinados pelo ambiente que nos rodeia, mas realmente é preciso um esforço de Hércules para vencer tudo isso sozinho, quem consegue não é a regra, é a execeção da exceção, milhões se perdem no caminho.
    Conceder cotas não é um atestado de incapacidade, é antes o reconhecimento e a tentativa de "reparar" um processo histórico que gerou e ainda gera enormes injustiças e desigualdades.

    Muito bom o texto, é uma discussão muito oportuna! 121 anos, quase nada! Quantos anos foram de escravidão mesmo?? (só pra pensar)

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  3. Claro que tudo que se passou foi uma tremenda sacanagem (para não usar um palavreado baixo), mas não acredito que este seja o caminho para "pagar" por tudo que foram obrigados a passar. E repito: e os brancos que também não têm condições de pagar uma faculdade? Que não têm e nem nunca tiveram o conforto de uma escola particular, mas são obrigados à todos os esforços para conseguir estudar? Se algo é injusto são as cotas, isso sim. Não podemos pagar pelos erros do passado (erros que não foram nossos) e pela falta de luta daquela época. Vocês aceitariam serem escravizados? Venderiam "irmãos" em troca de algo valioso? Neste momento muitos vão dizer: eles (negros) não podem pagar por algo que seus antepassados fizeram, e nós podemos? Pagaremos por algo que toda uma humanidade, em perfeita simetria concretizou? A história, o passado, já passou, pensemos no futuro, naquilo que fará bem a humanidade em geral, e não a uma cultura em específico.

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  4. Pode sim corigir se nao for incomodo^^ não é folgaa e minha falta de pericia no português, mas voltando ao assunto..
    Um povo não pode nunca apagar seu passado, as injustiças devem ser corrigidas para que continuemos com a cabeça erguida e com menos vergonha de olhar para trás, esse é o mesmo caso da ditadura!!
    os crimes devem ser punidos sim !

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  5. Mas acredito que essa não seja a saída! Não vejo como isso pode ajudar em algo. Simplesmente acho que as gerações futuras não devem ser cobradas (ou privilegiadas) por algo feito por seus antepassados.

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  6. Eu tb sou a favor das cotas pra negros e estudantes de escolas publicas. É sim uma dívida!
    Foram qtos anos de escravidão mesmo?
    Ah tá!

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  7. Bela discussão!
    Belo texto!
    Belo tema!

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  8. Vejo que só eu sou contrario. Hehehe
    Com certeza ótima discussão!

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