10 agosto 2009

Surdos: uma cultura diferente da nossa

Por Priscila Macedo

Gosto quando Lulu Santos diz:

“Não existiria som
Se não houvesse o silêncio,
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...”

E é isso... tem certas coisas que eu não sei dizer.

Não sabia. Talvez eu as tenha aprendido com tantas experiências que tenho tido ultimamente.

Sabe, é isso.

Á um tempo conheci o mundo dos Surdos. Confesso que ainda conheço, conhecendo estou. Seria? No início Deus disse haja luz, e num instante entendi. Compreendo desde então que usar as palavras não é mais importante e significativo como eu pensava. Os são? Sim. Mas os gestos, um olhar, uma expressão. Ah! São mais significativos que qualquer palavra ou poema drummondiano. Como? O sendo. Crianças surdas. Como alfabetizá-las? Impossível! Cria piamente. Hoje? Tudo é possível ao que crê. Já dizia Paulo aos Filipenses. É. É possível. E crianças surdas com deficiência mental? É possível. E surdos-cegos, MEU DEUS? É possível. Eles são como nós, como uma nação em meio a outra. São diferentes como qualquer estrangeiro. Então? Falta-lhes o nosso amor. A nossa amizade. Como os vemos? Coitados? Que dó. Que isso. São gente, e como gente precisam de mais gente. Como? Existe a LIBRAS! Se comunicam. Não são palhaços. Não são gênios da mímica, “engraçadinhos”. São gente. Professores, instrutores, artistas e mais um monte! Amo essa gente! Eles precisam dia após dia ganhar o mundo, mas conseguem sozinhos? As vezes sim, as vezes não. Quantos telefonemas para parentes distantes, marcar consultas por 0800s... e mais um monte que já não tive que fazer para ajudar amigos, até desconhecidos? A realidade: não estamos preparados pra tantas diferenças. Erramos? Nem tanto. Há culpados? Creio que não. O governo? Para neh. Sei lá. Inclusão? Que conversa pra boi dormir. Quem inventou isso? Um político? ...

Bom, continuando a questão de Lulu...

“Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...”

Assim, hoje, encontrei alguém que me completa:

“Não existiria som
Se não houvesse o silêncio,
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...”

Temos vivido bem. Nunca o vi como surdo, como alguém faltando algo. Eu é que sempre senti algo faltando, como a faca e o queijo, a luz e a estrela, o incerto e o perfeito, o branco e o preto. Uma eterna antítese que não sendo paralelas, se encontram sempre, quebrando assim qualquer regra de não e sim, e pode e não pode, e que é certo, e “que estranho” e tal e coisa. Somos assim. Diferentes. Iguais! Vamos dar as mãos? Ops, se for assim, um tem que ficar fora da roda: interpretando!

(Façamos um esforço)

=D


5 comentários:

  1. Gostei qdo disse sobre os surdos serem uma nação em meio a outra, pq é de fato isso, desconhecer a língua oficial (ou não poder utilizá-la) ocasiona afastamentos e incompreensão, como se fossem mesmo estrangeiros. E a sociedade está comumente organizada em função das pessoas ditas "normais", raramente os "diferentes" conseguem se inserir satisfatóriamente.

    =)

    a música casou certinho com o tema, gostei dela tb!!!

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  2. Bom, bom. Gostei do jeito de escrever, senti um pouco de sarcasmo em algumas perguntas, acho magnífico quem utiliza desse método. Mostra que não somos tão pouco como muitos pensam. Sei lá, só gostei do texto. hehehe
    O assunto foi bom, mas o jeito que escreveu foi o que me chamou a atenção. x)
    Mais uma contribuição positiva para nosso trabalho do blog!

    Parabéns!

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  3. realmente, o ensino ainda não está preparado pedagogicamente pra eles, em relação a outras nações pouko emotivas como os eua, não fazemos jus à natureza acolhedora de povos qui dizem ser o brasil

    lindo^^

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  4. Muito legal o texto, bom mesmo, agora vou ver Lulu santos com outros olhos
    hehe
    é uma causa complicada.. eu tenho um probleminha no ouvido e isso ja me incomoda
    imagino como deva ser nao ouvir nada, e falar em inclusão por agora é o mesmo que falar em ilusão... a UFG foi abrir um curso d elibras ano passado e deve ser uma das poucas no país
    o povo mal ensina o português =z
    ser brasileiro num é fácil nao, ser brasileiro surdo então deve ser barraa!
    parabéns pelo texto ^^

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